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TRAGÉDIA NO CARIBE
Desabrigados em Gonaives protestam e brigam entre si; brasileiros dizem que ajuda começa a chegar
Fome, sede e desespero crescem no Haiti
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
O desespero dos moradores de
Gonaives, a cidade haitiana mais
atingida pela tempestade tropical
Jeanne, atingiu um ponto crítico
ontem. Em meio à fome e à sede,
os desabrigados realizaram protestos e começaram a brigar entre
si. A única clínica que estava em
funcionamento -com um único
médico- foi invadida.
O número de mortos pelas enchentes chegou a 1.105, das quais
1.013 apenas em Gonaives. Segundo a Defesa Civil, o número poderia passar de 2.000.
Os militares brasileiros que foram a Gonaives, relatam que a população continua sobrevivendo
de forma precária, apesar de as
águas já terem baixado e de a ajuda humanitária estar chegando de
maneira cada vez mais intensa.
Helicópteros da ONU decolavam ontem um atrás do outro levando remédios e comida para a
terceira maior cidade do Haiti,
com 180 mil habitantes, dos quais
cerca até 70% estão desabrigados.
"Os desaparecidos [cerca de
1.200] devem ser os que viviam
mais perto do rio que transbordou", disse o major Alexandre
Gindri Angonese, que visitou Gonaives junto com o capitão Maurício de Souza Bezerra, que comanda a companhia que destacou 30 homens para a cidade.
O pelotão brasileiro em Gonaives cuida da segurança do heliporto aonde chegam remédios e
comida. Um atendente de saúde
do pelotão chegou a auxiliar o
parto de uma mulher haitiana.
"Há muita gente ainda em cima
das lajes das casas", disse Angonese. Haitianos desabrigados reclamam do cheiro dos cadáveres
em decomposição. O risco de epidemias ainda é grande.
Médicos argentinos tiveram de
fazer varias amputações de vítimas da enchente que sofreram de
gangrena. As condições de higiene nos postos de atendimento
médico ainda são muito precárias, segundo os militares brasileiros. Os argentinos também sofreram. Sua base chegou a ser alagada: "Chegou a haver mais de um
metro d'água na base argentina",
segundo Angonese.
Ontem também chegou um
avião C-130 venezuelano com
medicamentos. Outro C-130, da
Forca Aérea Brasileira, também
trouxe "kits antienchente" do Ministério da Saúde, com remédios
básicos.
A ONU possui apenas oito helicópteros para a sua missão de paz,
que estão trabalhando em ritmo
intenso. Para levar comida ao local em maior quantidade -a segunda maior necessidade, depois
dos medicamentos-, está sendo
preparado um comboio de uma
dúzia de caminhões da ONU, a serem escoltados por militares brasileiros, neste domingo.
O desastre é particularmente
grave para o país porque Gonaives fica em uma área agrícola, onde se produzia muito arroz, uma
das bases da dieta haitiana.
Para as operações de emergência e recuperação do país, o Banco
Mundial de Desenvolvimento
anunciou ontem a doação de US$
200 mil.
O jornalista Ricardo Bonalume Neto
viajou ao Haiti a convite do Ministério da
Defesa, em um C-130 da FAB.
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