São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Juntas eleitorais apontam falhas e irregularidades na organização do pleito, incluindo locais onde a disputa presidencial está parelha

Votação já é questionada em 9 Estados

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

A dez dias da eleição presidencial nos EUA e ante a crescente preocupação com a probidade do processo, surgem relatórios oficiais questionando a votação em nove Estados americanos.
Quatro deles -Flórida, Michigan, Pensilvânia e Ohio- são considerados decisivos para o resultado do pleito deste ano. As juntas eleitorais locais também apontam problemas no Colorado, na Geórgia, nas Carolinas do Norte e do Sul e em Nevada.
Em 2000, a eleição na Flórida foi decidida na Justiça, após duas recontagens de votos, e acabou determinando a vitória de George W. Bush no colégio eleitoral. Até hoje, o fantasma da legitimidade do pleito paira no ar. Sob o temor de que isso se repita na disputa entre Bush e John Kerry, os partidos estão fazendo suas próprias investigações.
Na quinta-feira, a junta eleitoral da Flórida ordenou um amplo inquérito sobre registros eleitorais duplos -dezenas de milhares de eleitores estão registrados em mais de um Estado, e, segundo o jornal "Orlando Sentinel", ao menos 1.600 deles votaram duas vezes nas últimas eleições.
Há dúvidas até sobre o comportamento dos oficiais eleitorais do Estado. Segundo o Departamento de Polícia, nas últimas semanas surgiram relatos em seis condados de eleitores que alegam ter sido mudados de seção eleitoral contra a vontade e sem aviso.
Nos demais Estados, as principais dúvidas recaem sobre duas questões: a falta de treinamento dos responsáveis pelos registros eleitorais e os chamados "votos provisórios", depositados por eleitores registrados cujos nomes não estão listados no local de votação onde eles se apresentam.
A lei federal determina que esses votos só sejam apurados quando for provado que o eleitor realmente era registrado. Mas alguns Estados decisivos, como Michigan, determinam também o descarte de votos depositados na seção eleitoral errada.
Os democratas contestam a decisão, com base no fato de uma parte considerável do eleitorado errar o local de votação. Em Ohio, outro Estado decisivo, a confusão foi alimentada por uma série de disputas jurídicas que criou dúvidas até entre mesários.
Relatórios das juntas eleitorais citados ontem pela Fox News também deu conta de outros problemas. Na Pensilvânia, outro Estado decisivo, funcionários encarregados dos registros eleitorais dentro de uma iniciativa custeada pelo Partido Republicano dizem ter recebido ordens para não registrar eleitores democratas. Os republicanos negaram.
Também há dúvida sobre o processo na Geórgia (onde as urnas eletrônicas não imprimem cópias do voto e dificultam a recontagem), na Carolina do Norte (onde milhares de soldados servindo no Iraque não receberam cédulas eleitorais a tempo) e no Colorado (onde 13 mil cédulas estão faltando). Em Nevada, grupos de pesquisa e mídia contestam a decisão da Justiça de mantê-los longe dos locais de votação.
A lista de suspeitas inclui até compra de votos: na Carolina do Sul, uma organização de saúde prometeu distribuir vacinas de gripe -em falta nos EUA- no dia da eleição em seis condados pobres do Estado. O Partido Republicano diz que a iniciativa é "politicamente motivada".


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