São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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Coréia do Norte é pior país para liberdade de imprensa

Em ranking da organização Repórteres Sem Fronteiras, Brasil fica em 75º, e EUA, em 53º

Assassinatos de jornalistas, intimidação e barreiras à informação são levados em conta; era Bush é ruim para jornalismo investigativo

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Coréia do Norte ficou em último lugar no ranking de liberdade de imprensa elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, que será divulgado hoje. O Brasil ficou em 75º e os Estados Unidos, 53º.
A organização, que defende a liberdade de expressão e de imprensa, com sede em Paris, usa uma rede de 130 jornalistas, colaboradores e ativistas pelos direitos humanos para elaborar a avaliação desde 2002.
"Levamos em conta assassinatos ou prisões de jornalistas, ameaças e atentados contra meios de comunicação, assim como a existência de monopólios da mídia ou do acesso à Internet", disse à Folha a jornalista francesa Lucie Morillon, chefe do escritório americano da Repórteres Sem Fronteiras, em Washington.
"A finalidade é mostrar quanto os governos e a Justiça de cada país ainda têm a fazer para garantir a liberdade de imprensa, e até estimular uma competição."
Se os piores colocados são ditaduras onde não é permitida mídia alternativa à estatal, como Coréia do Norte, Turcomenistão, Eritréia, Cuba, Mianmar e Irã, as surpresas são as más colocações de democracias como França (35º), EUA (53º) e Brasil (75º).
Em relação ao Brasil (71º em 2005), o relatório cita os assassinatos do jornalista Ajuricaba Monassa de Paula, no município fluminense de Guapimirim, em briga com um vereador da cidade, e do radialista José Cândido Amorim Pinto, que apresentava um programa em uma rádio comunitária em que denunciava corrupção na Prefeitura de Carpina (PE).
Também são citadas no relatório ameaças a jornalistas e intimidação a meios de comunicação em Tocantins, Santa Catarina e Ceará.
"Escrever sobre temas sensíveis, como corrupção, narcotráfico e desflorestamento, pode ser muito perigoso, fora das grandes cidades do Brasil", diz Morillon.

Bush e as fontes
Os Estados Unidos, que, no primeiro ranking, há quatro anos, ocupavam a 17ª posição, foram caindo até a atual 53ª (44ª em 2005).
"Com o pretexto da segurança nacional, o governo Bush tem limitado o acesso à informação, e qualquer repórter investigativo é transformado em suspeito", diz Morillon.
Para ela, os vários casos de jornalistas presos ou ameaçados de prisão por não revelarem suas fontes mostram que a Justiça "também tem limitado a liberdade de imprensa".
"A confidencialidade das fontes é uma das pedras fundamentais do jornalismo investigativo e está ameaçada no momento nos EUA".
O informe cita o caso do freelancer Joshua Wolf, que se negou a entregar um vídeo de uma manifestação antiglobalização durante a cúpula do G8 no ano passado, em San Francisco.
A Argentina também é citada negativamente, por atitudes do governo do presidente Néstor Kirchner de limitar o acesso à informação, perseguir jornalistas ou cortar verbas de patrocínio a meios críticos ao governo.
A Dinamarca, que ficou no topo do ranking no ano passado, caiu para o 19º lugar por causa das ameaças surgidas após a divulgação de charges que satirizavam Maomé em um jornal dinamarquês. Jornalistas tiveram que solicitar proteção policial pela primeira vez no país nos últimos anos.
A Rússia (147º) é um dos destaques negativos do ranking. É citado o assassinato da premiada repórter investigativa Anna Politkovskaya, no último dia 7.


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