São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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ARGENTINA

Novo mausoléu de Perón é reaberto para checar corpo

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O descanso eterno do general Juan Domingo Perón (1895-1974), três vezes presidente da Argentina, foi perturbado mais uma vez na manhã de ontem, quando seu recém-inaugurado mausoléu foi reaberto para verificar se seus restos mortais realmente estavam lá.
Autoridades certificaram que sim -ali estava o corpo do general, o mesmo que, em 1987, teve as mãos roubadas por alguém que violou sua sepultura.
Depois do turbulento translado que durou 12 horas no último dia 17 -com manifestações descontroladas de choro (de pessoas que acompanharam o desfile do caixão por Buenos Aires) e de violência (de grupos sindicais rivais cuja disputa culminou em tiros, pedradas e garrafadas)-, havia o temor de que algo houvesse ocorrido com o corpo.
Também havia especulações de que estivesse vazio o caixão que foi seguido pelo povo até a quinta que pertenceu a Perón e que foi transformada em museu em San Vicente (ao sul da capital argentina). Agora, haverá proteção da quinta e do mausoléu por duas forças policiais.
Já são dez os detidos por ter participado da violenta briga entre sindicalistas na quinta, que deixou cerca de 50 feridos. O quebra-quebra começou porque sindicatos rivais disputavam um lugar melhor para acompanhar o evento.

Hooligans
A polícia, a Justiça e a Promotoria relacionam a briga à onda de violência no futebol argentino. Muitos dos que brigaram são apontados como membros de torcidas organizadas e tidos como "encrenqueiros" contumazes.
Na última semana, uma partida foi interrompida após um jogador ser ferido por uma pedrada, e uma ordem judicial impediu um jogo entre Boca Juniors e Racing por risco de violência.
Um dos homens que atirou contra a multidão durante o funeral -além de ser funcionário do kirchnerista Hugo Moyano, presidente da CGT (Confederação Geral do Trabalho), a central sindical que organizou o novo funeral de Perón- foi ligado a eventos violentos em estádios.
Cem torcedores do time Independiente se reúnem semanalmente no sindicato dos caminhoneiros, também comandado por Moyano, e recebem dinheiro da entidade. Moyano, por sua vez, recebe repasses de dinheiro da Casa Rosada.
Segundo a revista semanal argentina "Notícias", o presidente Néstor Kirchner disse a um senador que o episódio de San Vicente o faria "perder um milhão de votos".
Para Kirchner, houve complô contra o governo, e pessoas foram contratadas para criar confusão na cerimônia -na qual ele planejava discursar, mas acabou desistindo após a eclosão da violência. A tese, porém, perde força com o avanço das investigações.


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