São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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Tunísia comparece em massa às urnas para eleições livres

País, orgulhoso de ter iniciado a Primavera Árabe, tem índice de votação de 90%, segundo comissão eleitoral

Resultados oficiais serão anunciados amanhã; pleito define assembleia que irá escrever a Constituição

MARCELO NINIO

ENVIADO ESPECIAL A TÚNIS

Os tunisianos não desperdiçaram ontem a chance de conhecer o sabor da democracia, comparecendo em massa para a primeira eleição livre de sua história.
O país que deflagrou a Primavera Árabe saiu na frente no processo de transformação política em um clima de celebração, coroado por um índice de votação que atingiu 90%, de acordo com a comissão eleitoral.
Os resultados oficiais da eleição, que define a composição da assembleia encarregada de redigir a nova Constituição do país, só devem ser anunciados amanhã.
Ao longo do dia, a tensão entre secularistas e islamitas que marcou a campanha eleitoral foi superada pela inédito orgulho de votar numa eleição livre das manipulações do antigo regime.
No tempo do ditador Zine Ben Ali, que governou o país por 23 anos até ser derrubado em janeiro, o comparecimento às urnas era mínimo.
Com o dedo indicador ainda fresco de tinta, sinal de que tinha acabado de votar, Abdullah Zawe, 55, era a imagem do orgulho patriótico. Para ele, era como estar "nascendo" para a política.
"Nunca tinha votado antes, porque com Ben Ali as eleições eram um teatro com final conhecido", explicou, após votar no partido de centro Congresso.
Apontado pelas pesquisas como o favorito para ter a maior bancada da Constituinte, o partido islâmico Nahda polarizou a campanha com os rivais seculares, que o acusam de ter uma agenda extremista oculta.
A tensão ressurgiu ontem na boca da urna, quando o líder do Nahda, Rashid Gannouchi, foi hostilizado aos gritos de "terrorista" por um grupo de oposicionistas depois de votar na capital.
Mas após dez meses de ansiedade, desde os protestos que forçaram Ben Ali a fugir do país, muitos tunisianos viram na eleição uma chance de finalmente votar no Nahda, considerado ilegal pelo antigo regime.
"Islã e democracia são compatíveis", garantia na saída da cabine de votação a estudante Mariam Dini, 23, coberta com um hijab (véu islâmico). "Votei no Nahda porque ele prometeu isso".
Sem intimidade com o ritual democrático, os tunisianos tiveram que enfrentar longas filas em algumas sessões de votação. Os mesários orientavam os que se confundiam com a enorme cédula de votação, composta de 110 partidos.
O orgulho de ter iniciado a Primavera Árabe era claro. "O mundo árabe está nos olhando", disse o biólogo Ridha Ben Aissa. "Temos uma enorme responsabilidade."


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