São Paulo, terça-feira, 24 de novembro de 2009

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Polícia britânica indenizará família de Jean Charles

Scotland Yard e representantes do brasileiro morto por engano em 2005 fecham acordo que encerra batalha legal sobre caso

Em Minas Gerais, pai de Jean Charles diz não saber sobre trato; ninguém foi punido por morte de eletricista, confundido com terrorista


DA REDAÇÃO

Após mais de quatro anos de batalha legal, a família do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 pela polícia britânica após ser confundido com um suposto terrorista, anunciou ontem ter chegado a um acordo com a Scotland Yard, pelo qual receberá uma indenização.
A "família de Menezes" e a polícia disseram, em comunicado conjunto, que todo litígio em torno do assassinato do brasileiro "foi resolvido". A nota diz que as partes concordaram em não fazer comentários adicionais.
Matozinhos Otone da Silva, 70, pai de Jean Charles, disse ontem que não sabia sobre o acordo acertado: "Por enquanto não estamos sabendo ainda não. Se saiu, a gente ainda não sabe o resultado ainda não".
Em sua casa, na região rural de Gonzaga (MG), Matozinhos disse que já pensou em desistir de receber reparação porque está "enjoado de tanto vaievem". "Não queríamos era perder o nosso filho. Mas já perdemos, então, agora, esquentar mais a cabeça é bobagem." A Folha não conseguiu falar ontem com Alex Pereira nem com Vivian Figueiredo, ambos primos de Jean Charles que costumam falar pela família em Londres.
No comunicado de ontem, a polícia britânica voltou a pedir desculpas pela "trágica" morte do brasileiro, que provocou onda de críticas à política antiterror do Reino Unido. O valor da compensação não foi divulgado. Segundo o jornal britânico "Daily Mail", será cerca de 100 mil libras esterlinas (R$ 286 mil), um terço do que pedia a defesa, mais despesas legais.
O valor foi calculado, diz o jornal, seguindo a praxe de projetar os salários que o eletricista Jean Charles teria recebido caso a polícia não tivesse disparado sete tiros contra ele em uma estação do metrô de Londres, em 22 de julho de 2005, poucos dias após o ataque terrorista que matou 52 pessoas na capital britânica.
O valor da compensação à família do brasileiro contrasta, de acordo com o "Daily Mail", com o R$ 1,1 milhão que recebeu o chefe da polícia de Londres na época, Ian Blair, quando abdicou do cargo em 2008, por questões políticas.

Sem punição
Uma investigação independente da polícia sobre a morte do brasileiro criticou duramente a desastrada operação e a conduta de Blair depois do incidente, por bloquear as investigações. Ele chegou a dizer que o brasileiro, confundido com um terrorista etíope segundo a Scotland Yard, havia reagido.
Ninguém foi punido pela morte de Jean Charles. Foram quatro investigações ao todo, que demonstraram a sequência de erros da polícia e dos policiais londrinos, mas as circunstâncias do caso levaram sempre à decisão de que ninguém poderia ser condenado. Se perdeu fôlego no Brasil (na imprensa e no governo), o assunto repercute na imprensa britânica, que dá destaque aos desdobramentos do caso.

Colaborou GABRIELA MANZINI, da Folha Online



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