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Polícia britânica indenizará família de Jean Charles
Scotland Yard e representantes do brasileiro morto por engano em 2005 fecham acordo que encerra batalha legal sobre caso
Em Minas Gerais, pai de Jean Charles diz não saber sobre trato; ninguém foi punido por morte de eletricista, confundido com terrorista
DA REDAÇÃO
Após mais de quatro anos de
batalha legal, a família do eletricista brasileiro Jean Charles
de Menezes, morto em 2005
pela polícia britânica após ser
confundido com um suposto
terrorista, anunciou ontem ter
chegado a um acordo com a
Scotland Yard, pelo qual receberá uma indenização.
A "família de Menezes" e a
polícia disseram, em comunicado conjunto, que todo litígio
em torno do assassinato do brasileiro "foi resolvido". A nota
diz que as partes concordaram
em não fazer comentários adicionais.
Matozinhos Otone da Silva,
70, pai de Jean Charles, disse
ontem que não sabia sobre o
acordo acertado: "Por enquanto não estamos sabendo ainda
não. Se saiu, a gente ainda não
sabe o resultado ainda não".
Em sua casa, na região rural
de Gonzaga (MG), Matozinhos
disse que já pensou em desistir
de receber reparação porque
está "enjoado de tanto vaievem". "Não queríamos era perder o nosso filho. Mas já perdemos, então, agora, esquentar
mais a cabeça é bobagem."
A Folha não conseguiu falar
ontem com Alex Pereira nem
com Vivian Figueiredo, ambos
primos de Jean Charles que
costumam falar pela família
em Londres.
No comunicado de ontem, a
polícia britânica voltou a pedir
desculpas pela "trágica" morte
do brasileiro, que provocou onda de críticas à política antiterror do Reino Unido. O valor da
compensação não foi divulgado. Segundo o jornal britânico
"Daily Mail", será cerca de 100
mil libras esterlinas (R$ 286
mil), um terço do que pedia a
defesa, mais despesas legais.
O valor foi calculado, diz o
jornal, seguindo a praxe de projetar os salários que o eletricista Jean Charles teria recebido
caso a polícia não tivesse disparado sete tiros contra ele em
uma estação do metrô de Londres, em 22 de julho de 2005,
poucos dias após o ataque terrorista que matou 52 pessoas
na capital britânica.
O valor da compensação à família do brasileiro contrasta,
de acordo com o "Daily Mail",
com o R$ 1,1 milhão que recebeu o chefe da polícia de Londres na época, Ian Blair, quando abdicou do cargo em 2008,
por questões políticas.
Sem punição
Uma investigação independente da polícia sobre a morte
do brasileiro criticou duramente a desastrada operação e a
conduta de Blair depois do incidente, por bloquear as investigações. Ele chegou a dizer que o
brasileiro, confundido com um
terrorista etíope segundo a
Scotland Yard, havia reagido.
Ninguém foi punido pela
morte de Jean Charles. Foram
quatro investigações ao todo,
que demonstraram a sequência
de erros da polícia e dos policiais londrinos, mas as circunstâncias do caso levaram sempre
à decisão de que ninguém poderia ser condenado.
Se perdeu fôlego no Brasil
(na imprensa e no governo), o
assunto repercute na imprensa
britânica, que dá destaque aos
desdobramentos do caso.
Colaborou GABRIELA MANZINI, da Folha Online
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