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ITÁLIA
Decreto de emergência visa evitar que uma televisão da família do premiê passe a ser transmitida apenas via satélite
Gabinete de Berlusconi aprova ajuda à sua TV
DA REDAÇÃO
O gabinete italiano aprovou ontem um decreto de emergência
com o objetivo de salvar um dos
três canais de televisão controlados pela família do primeiro-ministro do país, Silvio Berlusconi,
de um possível fechamento.
Os críticos do primeiro-ministro dizem que a medida, que já era
esperada, é o exemplo mais gritante até agora do conflito entre
os imensos interesses empresariais de Berlusconi e seu poder político.
O decreto é uma medida provisória que protegerá o grupo Mediaset, controlado pela família de
Berlusconi, contra as consequências negativas da rejeição presidencial a um projeto de lei de mídia que, segundo os críticos, foi
criado sob medida para beneficiar
o império de mídia do primeiro-ministro.
"O decreto para salvar a Rete 4
confirma o quanto é grande o
conflito de interesses em nosso
país", disse Piero Fassino, que dirige a Democracia de Esquerda,
da oposição.
Estima-se que Berlusconi influencie 95% da televisão italiana
por conta de de seu cargo público
-visto que tem influência sobre
os canais da RAI, a rede pública
de televisão- e de seus interesses
empresariais.
O decreto bloqueia uma ordem
judicial que forçaria a Rete 4, da
Mediaset, um canal de TV aberta,
a usar em lugar disso a transmissão via satélite -um beco sem
saída comercial que, de acordo
com a Mediaset, acabaria forçando o fechamento da Rete 4.
A medida concede à Rete 4 uma
sobrevida de cinco meses, enquanto a controvertida lei de mídia é reformulada. O decreto permite igualmente que a um dos
três canais controlados pela rede
estatal de TV RAI continue a vender publicidade, enquanto a situação dos competidores é avaliada.
A mesma ordem judicial exigia
que a RAI 3 deixasse de vender espaço publicitário.
"O primeiro-ministro assina
um decreto envolvendo sua empresa. Não posso conceber um
exemplo mais claro e clamoroso
de conflito de interesses", disse
Fassino, o dirigente da Democracia de Esquerda.
Posições dominantes
A crise deriva de uma decisão
tomada, na semana passada, pelo
presidente italiano, Carlo Azeglio
Ciampi. Este decidiu não assinar
uma controvertida lei proposta
pelo governo para reformular o
panorama da mídia na Itália e relaxar os limites ao controle acionário. A lei também serviria para
salvar a Rete 4.
Ciampi pediu que o Parlamento
revisse a legislação, alegando que,
em sua forma original, ela não garantiria a pluralidade na mídia e
poderia levar a posições dominantes -especialmente em termos de publicidade.
A maioria de direita que Berlusconi comanda no Parlamento poderá agora adaptar a legislação
para atender às preocupações expressas por Ciampi ou aprová-la
sem alterações, o que forçaria o
presidente a assiná-la -uma situação que envenenaria ainda
mais o já complicado jogo político
italiano.
Maurizio Gasparri, ministro das
Comunicações, disse que o decreto de ontem dá à autoridade nacional de telecomunicações um
prazo até 30 de abril para decidir
sobre as condições de competição. Caso seja determinado que
não há concorrência suficiente, a
Rete 4 terá de adotar a transmissão via satélite e a RAI 3 terá de
abandonar a venda de publicidade (até 30 de maio).
Os críticos dizem que a nova lei
abriria caminho para que Berlusconi expandisse seu império de
mídia, elevando sua participação
no bolo de receitas publicitárias.
O presidente da Mediaset disse
que a lei daria ao grupo e à Mondadori, a editora controlada pela
família de Berlusconi, acesso a
750 milhões em receitas publicitárias adicionais.
As ações da Mediaset fecharam
ontem em queda na Bolsa de Valores, cotadas a 9,44.
Com agências internacionais
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