São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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NUCLEAR

Investigadores dizem que especialistas contribuíram com programa atômico iraniano; governo nega envolvimento

Paquistão admite ajuda de cientistas ao Irã

DA REDAÇÃO

O governo do Paquistão admitiu que cientistas do país deram ilegalmente ajuda técnica ao programa de armas nucleares do Irã no final dos anos 80. Segundo o jornal "The Washington Post", investigadores paquistaneses concluíram que pelo menos dois dos principais cientistas nucleares do país passaram tecnologia de armas para o Irã no âmbito de um programa secreto de cooperação nuclear para fins pacíficos firmado entre os dois países.
O Paquistão afirma que está rastreando as contas bancárias dos dois cientistas e de administradores do programa nuclear, alguns dos quais estão presos sob a suspeita de vender tecnologia nuclear para o Irã e outros países.
Nove paquistaneses, entre eles Abdul Qadeer Khan, considerado o pai da bomba atômica do Paquistão, estão sendo interrogados numa investigação sobre proliferação nuclear. O governo do Paquistão nega que tenha autorizado a transferência de tecnologia de armas, mas diz que pessoas ligadas a seu programa podem tê-lo feito por conta própria.
O ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, disse no Fórum Econômico de Davos (Suíça) que o Estado vai processar qualquer especialista que tenha passado segredos nucleares a outros países. Além do Irã, Coréia do Norte e Líbia são apontados como beneficiários de transferências de tecnologia nuclear paquistanesa.
Um funcionário do Ministério do Interior disse à agência de notícias Associated Press que as contas bancárias dos envolvidos estão sendo rastreadas. Ele afirmou que a suspeita é que os envolvidos teriam agido para obter benefícios financeiros pessoais, mas não forneceu nomes nem detalhes.
O ministro da Informação, Sheikh Rashid Ahmed, recusou-se a comentar a reportagem do jornal "The Washington Post". Ele disse que os interrogatórios ainda estão em curso e que é cedo para especulações. Segundo o "Post", Mohammed Faruq, ex-diretor-geral dos Laboratórios de Pesquisa Khan, foi preso no mês passado. Abdul Qadeer Khan, o fundador do programa nuclear paquistanês, que deu nome ao laboratório, foi implicado e ouvido pelas autoridades, mas não chegou a ser detido. De acordo com o jornal, Faruq em seu depoimento envolveu Khan, que é considerado um herói nacional por ter desenvolvido a bomba.
Um membro da inteligência paquistanesa disse à Associated Press que Khan, quando interrogado, negou ter vínculos com o grupo que poderia ter passado segredos a outros países.
O general Musharraf disse que as investigações paquistanesas começaram depois que o Irã revelou os nomes das pessoas que lhe forneceram tecnologia nuclear. Para o presidente, é possível que pessoas "inescrupulosas", visando a seu ganho pessoal, tenham abusado da confiança e da autonomia que o governo lhes deu para desenvolver armas atômicas.
O programa nuclear paquistanês começou há cerca de 30 anos. O país tem uma grande rivalidade com a vizinha Índia, com a qual já travou três guerras desde a independência em 1947.
O chefe da agência nuclear das Nações Unidas, Mohamed ElBaradei, que também está no Fórum de Davos, disse na semana passada que a proliferação nuclear envolve uma "sofisticada rede de mercados negros". Numa entrevista à revista alemã "Der Spiegel" que chega às bancas amanhã, ele afirmou que o perigo de uma guerra nuclear "nunca foi tão grande como hoje".



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