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4º FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Henrique Meirelles afirma que condições para a expansão já estão dadas, com atividade industrial e investimento em elevação
"Crescimento já está contratado", diz BC
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O presidente do Banco Central,
Henrique de Campos Meirelles,
soltou ontem uma ousada frase
de efeito, ainda mais depois de ter
sido duramente criticado pelo fato de o BC não ter reduzido a taxa
de juros na última quarta-feira.
"O crescimento para 2004 já está contratado", diz Meirelles, em
frase que lembra a promessa de
"espetáculo do crescimento", feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meados do ano
passado, e que não se materializou (o crescimento em 2003 foi
zero ou muito pouco acima).
Para Meirelles, o "contrato"
com o crescimento está dado por
ao menos três fatores: o aumento
da atividade industrial, em especial na área de máquinas e equipamentos; o aumento do investimento; e o crescimento da massa
salarial agregada, ainda que o salário médio esteja em declínio (e o
desemprego estabilizado em nível
altíssimo). "As condições estão
dadas", aposta Meirelles.
Mas no próprio governo há
quem ache que ao menos uma das
condições (a redução dos juros)
está longe de aparecer, a julgar
por um diálogo de que participou
o ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan.
Nos corredores do Centro de
Congressos de Davos, sede dos
encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, de que participam neste ano tanto Furlan como
Meirelles, o ministro conversava
numa roda que incluía William
Rhodes, presidente do Citigroup.
Aproximou-se, então, o presidente do BC argentino, Alfonso
Prat-Gay. Rhodes quis apresentar
o funcionário argentino a Furlan,
que se antecipou: "Não precisa
apresentar. É o banqueiro central
dos meus sonhos. Qual foi mesmo a redução de juros que você
fez, Alfonso?", perguntou Furlan.
A Argentina está com o mais
baixo nível de juros de sua história, um dos fatores para o crescimento de perto de 10% em 2003.
Um segundo momento em que
Meirelles ficou na defensiva foi no
debate matinal sobre o que a
Goldman Sachs chamou de Bric
(Brasil, Rússia, Índia e China).
Estudo da empresa diz que, até
2050, os quatro países formarão
parte do G6 com Estados Unidos
e Japão, os únicos dos atuais
membros do G7 que permaneceriam no clube dos mais ricos.
O problema, para Meirelles, é
que os três eventuais futuros sócios do Brasil no clube dos ricos já
estão apresentando crescimento
extraordinário: 9,1% para a China; 8,4% para a Índia; e 5,7% para
a Rússia. O Brasil apenas "contratou" o crescimento.
Meirelles tratou, no entanto, de
explicar que, entre 1880 e 1980, o
Brasil foi o segundo país de maior
crescimento no mundo, ultrapassado só pelo Japão. Mas foi um
crescimento liderado pelo Estado,
que entrou em crise de financiamento, o que levou, sempre na
descrição do presidente do BC, a
um crescimento muito baixo nas
duas décadas mais recentes.
Agora, acha Meirelles, o Brasil
está sinalizando ao mundo que
está resolvido o problema fiscal,
"que levou ao tumulto econômico" dos anos 80 e 90.
"O sinal é o seguinte: não olhe
para esse passado recente, mas
para os cem anos anteriores, e você verifica que o Brasil tem condições de crescer a taxas elevadas."
É possível, mas o estudo da
Goldman Sachs sobre o Bric acaba sendo, para o Brasil, a clássica
história do copo que está meio
cheio ou meio vazio.
Meio cheio, por exemplo, porque a economia brasileira já em
2025 alcança a da Itália, hoje
membro do G7. Meio vazio, por
exemplo, porque o Brasil, hoje a
maior renda per capita entre os
quatro do Bric, acabará alcançado
e ultrapassado por dois deles.
Sem contar que todos eles continuarão, mesmo em 2050, a ter
renda individual inferior, na média, à das pessoas que vivem no
G6 (EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido e Itália).
De todo modo, o debate serviu
para a estratégia diplomática de
Lula ganhar um elogio de uma
fonte importante: David Rothkopft, hoje no instituto Carnegie
para a Paz Internacional, de Washington, mas que, no governo
Clinton, presidiu a "Iniciativa para os Grandes Mercados Emergentes", antigo código do Bric.
Rothkopft disse que Lula estava
sendo "criativo", ao mencionar a
agenda do presidente para 2004,
que inclui visitas à Índia e à China.
Para Rothkopft, essa agenda seria demonstração de que a ascensão dos Bric ao topo do mundo
"não é uma construção teatral."
Bonança
O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias, prevê "um
período de bonança" para a América Latina neste ano, com um
crescimento de 4%, puxado pelo
Brasil e pela Argentina. "Terminou o período de recessão. Haverá uma forte recuperação da
América Latina neste ano."
Colaborou a Redação
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