São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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4º FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Henrique Meirelles afirma que condições para a expansão já estão dadas, com atividade industrial e investimento em elevação

"Crescimento já está contratado", diz BC

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, soltou ontem uma ousada frase de efeito, ainda mais depois de ter sido duramente criticado pelo fato de o BC não ter reduzido a taxa de juros na última quarta-feira.
"O crescimento para 2004 já está contratado", diz Meirelles, em frase que lembra a promessa de "espetáculo do crescimento", feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meados do ano passado, e que não se materializou (o crescimento em 2003 foi zero ou muito pouco acima).
Para Meirelles, o "contrato" com o crescimento está dado por ao menos três fatores: o aumento da atividade industrial, em especial na área de máquinas e equipamentos; o aumento do investimento; e o crescimento da massa salarial agregada, ainda que o salário médio esteja em declínio (e o desemprego estabilizado em nível altíssimo). "As condições estão dadas", aposta Meirelles.
Mas no próprio governo há quem ache que ao menos uma das condições (a redução dos juros) está longe de aparecer, a julgar por um diálogo de que participou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
Nos corredores do Centro de Congressos de Davos, sede dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, de que participam neste ano tanto Furlan como Meirelles, o ministro conversava numa roda que incluía William Rhodes, presidente do Citigroup.
Aproximou-se, então, o presidente do BC argentino, Alfonso Prat-Gay. Rhodes quis apresentar o funcionário argentino a Furlan, que se antecipou: "Não precisa apresentar. É o banqueiro central dos meus sonhos. Qual foi mesmo a redução de juros que você fez, Alfonso?", perguntou Furlan.
A Argentina está com o mais baixo nível de juros de sua história, um dos fatores para o crescimento de perto de 10% em 2003.
Um segundo momento em que Meirelles ficou na defensiva foi no debate matinal sobre o que a Goldman Sachs chamou de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).
Estudo da empresa diz que, até 2050, os quatro países formarão parte do G6 com Estados Unidos e Japão, os únicos dos atuais membros do G7 que permaneceriam no clube dos mais ricos.
O problema, para Meirelles, é que os três eventuais futuros sócios do Brasil no clube dos ricos já estão apresentando crescimento extraordinário: 9,1% para a China; 8,4% para a Índia; e 5,7% para a Rússia. O Brasil apenas "contratou" o crescimento.
Meirelles tratou, no entanto, de explicar que, entre 1880 e 1980, o Brasil foi o segundo país de maior crescimento no mundo, ultrapassado só pelo Japão. Mas foi um crescimento liderado pelo Estado, que entrou em crise de financiamento, o que levou, sempre na descrição do presidente do BC, a um crescimento muito baixo nas duas décadas mais recentes.
Agora, acha Meirelles, o Brasil está sinalizando ao mundo que está resolvido o problema fiscal, "que levou ao tumulto econômico" dos anos 80 e 90.
"O sinal é o seguinte: não olhe para esse passado recente, mas para os cem anos anteriores, e você verifica que o Brasil tem condições de crescer a taxas elevadas."
É possível, mas o estudo da Goldman Sachs sobre o Bric acaba sendo, para o Brasil, a clássica história do copo que está meio cheio ou meio vazio.
Meio cheio, por exemplo, porque a economia brasileira já em 2025 alcança a da Itália, hoje membro do G7. Meio vazio, por exemplo, porque o Brasil, hoje a maior renda per capita entre os quatro do Bric, acabará alcançado e ultrapassado por dois deles.
Sem contar que todos eles continuarão, mesmo em 2050, a ter renda individual inferior, na média, à das pessoas que vivem no G6 (EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido e Itália).
De todo modo, o debate serviu para a estratégia diplomática de Lula ganhar um elogio de uma fonte importante: David Rothkopft, hoje no instituto Carnegie para a Paz Internacional, de Washington, mas que, no governo Clinton, presidiu a "Iniciativa para os Grandes Mercados Emergentes", antigo código do Bric.
Rothkopft disse que Lula estava sendo "criativo", ao mencionar a agenda do presidente para 2004, que inclui visitas à Índia e à China.
Para Rothkopft, essa agenda seria demonstração de que a ascensão dos Bric ao topo do mundo "não é uma construção teatral."

Bonança
O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias, prevê "um período de bonança" para a América Latina neste ano, com um crescimento de 4%, puxado pelo Brasil e pela Argentina. "Terminou o período de recessão. Haverá uma forte recuperação da América Latina neste ano."


Colaborou a Redação


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