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AMÉRICA DO SUL
Líder boliviano destitui comando das Forças Armadas e da polícia e atrai críticas por não respeitar tradição
Morales ignora hierarquia e irrita militares
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Em uma decisão que provocou
insatisfação e protestos entre as fileiras militares e abriu o primeiro
foco de tensão em seu governo, o
presidente da Bolívia, Evo Morales, destituiu ontem todo o comando das Forças Armadas e da
polícia e designou novos ocupantes para as funções.
O motivo de polêmica foi o fato
de Morales ter ignorado a hierarquia e "saltado" duas gerações de
militares que, em tese, deveriam
ter sido promovidos no lugares
dos comandantes designados.
A decisão ocorre ainda em meio
a uma crise militar detonada pela
destruição, nos EUA, de 28 mísseis antiaéreos que pertenciam ao
Exército boliviano e correspondiam a todo o poderio antiaéreo
do país, em outubro de 2005.
Informe do governo interino de
Eduardo Rodríguez, que antecedeu a Morales, apontou que o envio e a destruição dos mísseis
ocorreu sem ordem expressa do
Executivo. O Exército alegou que
os equipamentos eram obsoletos.
Parte da cúpula destituída está
sendo investigada pelo governo
no caso, assim como o papel da
Embaixada dos EUA em La Paz.
O primeiro a ser derrubado pela
crise foi o comandante do Exército, Marcelo Antezana, destituído
na semana passada. A função vinha sendo ocupada interinamente pelo general Orlando Paniagua,
que, ontem, foi substituído pelo
general Freddy Bursatti.
O novo comandante-em-chefe
das Forças Armadas será o general Wilfredo Vargas, e o general
Carlos Antelo assume como chefe
do Estado-Maior. Também foram
trocados os comandantes da Marinha, da Aeronáutica e da polícia.
A cerimônia de posse, no Palácio Quemado (sede do governo),
no segundo dia de mandato de
Morales, foi tumultuada.
"O que estão fazendo comigo?",
gritou o general Marco Antonio
Vásquez, que classificou a posse
de Vargas em seu lugar como "injusta". Sua mulher também protestou aos gritos. Segundo os jornais locais, os dois foram detidos.
"Morales não respeitou a institucionalidade", disse o ex-chefe
do Estado-Maior Carlos Delfín
Mesa. Segundo ele, as designações "quebraram a unidade das
Forças Armadas e poderiam quebrar a unidade do país."
"Lamento muito que alguns generais tenham sido observados
pelo governo que saiu, não foram
punidos, e têm de se submeter a
uma investigação", disse Morales.
"Não é por isso que alguns
membros das Forças Armadas
têm de se aborrecer. Todos têm de
contribuir para a investigação;
quem não deve não teme", disse.
"É importante fortalecer nossas
Forças Armadas porque um país
sem Forças Armadas não é um
país livre e soberano." Morales
pediu ainda que os militares não
interfiram na política do país.
"O presidente tem toda a autoridade para tornar comandante
quem quer que seja . É uma decisão privativa do presidente da República. Não há uma regra a ser
seguida", disse à Folha o capitão-de-fragata Guillermo Viorel, diretor de comunicação social das
Forças Armadas bolivianas. Pela
Constituição boliviana, Morales é
o capitão-geral das forças.
Viorel reconheceu, porém, que
Morales quebrou uma "ordem
institucional", gerando mal-estar
na instituição. "Duas gerações de
generais estão sendo passadas por
cima e por isso estão reclamando", afirmou, apesar de acrescentar que Morales "escolheu os generais que sempre estiveram à
frente de suas gerações".
Com agências internacionais
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