São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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AMÉRICA DO SUL

Líder boliviano destitui comando das Forças Armadas e da polícia e atrai críticas por não respeitar tradição

Morales ignora hierarquia e irrita militares

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Em uma decisão que provocou insatisfação e protestos entre as fileiras militares e abriu o primeiro foco de tensão em seu governo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, destituiu ontem todo o comando das Forças Armadas e da polícia e designou novos ocupantes para as funções.
O motivo de polêmica foi o fato de Morales ter ignorado a hierarquia e "saltado" duas gerações de militares que, em tese, deveriam ter sido promovidos no lugares dos comandantes designados.
A decisão ocorre ainda em meio a uma crise militar detonada pela destruição, nos EUA, de 28 mísseis antiaéreos que pertenciam ao Exército boliviano e correspondiam a todo o poderio antiaéreo do país, em outubro de 2005.
Informe do governo interino de Eduardo Rodríguez, que antecedeu a Morales, apontou que o envio e a destruição dos mísseis ocorreu sem ordem expressa do Executivo. O Exército alegou que os equipamentos eram obsoletos.
Parte da cúpula destituída está sendo investigada pelo governo no caso, assim como o papel da Embaixada dos EUA em La Paz.
O primeiro a ser derrubado pela crise foi o comandante do Exército, Marcelo Antezana, destituído na semana passada. A função vinha sendo ocupada interinamente pelo general Orlando Paniagua, que, ontem, foi substituído pelo general Freddy Bursatti.
O novo comandante-em-chefe das Forças Armadas será o general Wilfredo Vargas, e o general Carlos Antelo assume como chefe do Estado-Maior. Também foram trocados os comandantes da Marinha, da Aeronáutica e da polícia.
A cerimônia de posse, no Palácio Quemado (sede do governo), no segundo dia de mandato de Morales, foi tumultuada.
"O que estão fazendo comigo?", gritou o general Marco Antonio Vásquez, que classificou a posse de Vargas em seu lugar como "injusta". Sua mulher também protestou aos gritos. Segundo os jornais locais, os dois foram detidos.
"Morales não respeitou a institucionalidade", disse o ex-chefe do Estado-Maior Carlos Delfín Mesa. Segundo ele, as designações "quebraram a unidade das Forças Armadas e poderiam quebrar a unidade do país."
"Lamento muito que alguns generais tenham sido observados pelo governo que saiu, não foram punidos, e têm de se submeter a uma investigação", disse Morales.
"Não é por isso que alguns membros das Forças Armadas têm de se aborrecer. Todos têm de contribuir para a investigação; quem não deve não teme", disse.
"É importante fortalecer nossas Forças Armadas porque um país sem Forças Armadas não é um país livre e soberano." Morales pediu ainda que os militares não interfiram na política do país.
"O presidente tem toda a autoridade para tornar comandante quem quer que seja . É uma decisão privativa do presidente da República. Não há uma regra a ser seguida", disse à Folha o capitão-de-fragata Guillermo Viorel, diretor de comunicação social das Forças Armadas bolivianas. Pela Constituição boliviana, Morales é o capitão-geral das forças.
Viorel reconheceu, porém, que Morales quebrou uma "ordem institucional", gerando mal-estar na instituição. "Duas gerações de generais estão sendo passadas por cima e por isso estão reclamando", afirmou, apesar de acrescentar que Morales "escolheu os generais que sempre estiveram à frente de suas gerações".


Com agências internacionais

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