São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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EUROPA

Sem chance de deixar prisão de segurança máxima, presos querem o "restabelecimento efetivo da pena de morte"

10 condenados à pena perpétua querem ser executados na França

DA REDAÇÃO

Dez presos do centro penitenciário francês de Clairvaux, condenados à prisão perpétua e sem nenhuma chance de obter liberdade, publicaram carta em que pedem o "restabelecimento efetivo da pena de morte" para que ela possa ser aplicada neles próprios.
"Chega de hipocrisia! Já que nos confinam irrevogavelmente a uma perpetuidade real, sem nenhuma perspectiva de libertação, nós preferimos pôr fim de vez a nosso martírio a nos vermos morrer aos poucos, sem esperança de outro amanhã depois de bem mais de 20 anos de miséria absoluta", diz a carta dos dez condenados à prisão perpétua.
"Nós, que viveremos de modo perpétuo atrás dos muros do centro penitenciário de mais alta segurança da França, pedimos o restabelecimento efetivo da pena de morte para que ela possa ser aplicada a nós mesmos", acrescentam os presos.
A carta, datada de 16 de janeiro, foi assinada por dez homens que, em seguida, precisam o tempo que eles já passaram na prisão -que vai de 6 a 28 anos. São eles: Abdelhamid Hakkar, André Gennera, Bernard Lasselin, Patrick Perrochon, Milivoj Miloslavjevic, Daniel Aerts, Farid Tahir, Christian Rivière, Jean-Marie Dubois e Tadeusz Tutkaj.
Uma lei de 1981, adotada no início do primeiro mandato do presidente socialista François Mitterrand, morto em 1996 após ficar 14 anos à frente da cena política francesa, aboliu a pena de morte para qualquer tipo de crime na França.
O ministro da Justiça da França à época era Robert Badinter, famoso advogado criminalista e defensor dos direitos humanos, que hoje é senador.
Além disso, os Estados-membros da União Européia não podem adotar a pena de morte.
O centro penitenciário de Clairvaux, instalado numa antiga abadia, é uma das prisões mais bem guardadas e severas da França. Nele estão detidos 170 prisioneiros, todos condenados a longas penas de reclusão.
Pouco depois da decisão de restabelecer a estrita obrigação de fechamento das portas das celas durante o dia, um motim relativamente grave eclodiu no local em 16 de abril de 2003. Um guarda ficou refém dos presos durante algum tempo e foi ameaçado com um estilete, e cerca de 80 presos atearam fogo a salas de terapia ocupacional.
Anteriormente, houve várias revoltas de presos e muitos motins no centro penitenciário de Clairvaux. Nos mais graves, um carcereiro e uma enfermeira foram assassinados em 1971, depois de ficarem como reféns nas mãos dos prisioneiros. Numa sangrenta tentativa de fuga ocorrida em 1992, outro carcereiro foi morto por presos revoltados.
Badinter deu início à sua luta contra a pena de morte depois da execução de Roger Bontems, ocorrida em novembro de 1972. Ao lado de Claude Buffet, Bontems fora responsável pela revolta de 1971, no centro de Clairvaux. Foi Buffet que matou o carcereiro e a enfermeira, e a aplicação da pena de morte a Bontems, que não fora responsável direto pelos assassinatos, revoltou Badinter.
Questionada pela agência de notícias France Presse, a direção do centro penitenciário de Clairvaux afirmou não saber como a carta dos dez prisioneiros pôde sair das instalações carcerárias.


Com agências internacionais

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