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Texto afugenta investidores, diz ex-vice-presidente
DO ENVIADO A POTOSÍ
Desaparecido da cena política até a atual campanha, o ex-vice-presidente Víctor Hugo
Cárdenas (1993-1997), 57, se
transformou num dos maiores
críticos ao projeto de Constituição. Aimará como Evo Morales, ele havia sido o indígena a
alcançar o posto mais alto na
Bolívia antes do atual presidente. A seguir, a entrevista à Folha, por telefone:
(FM)
FOLHA - Por que o sr. é contrário a
este projeto constitucional?
VÍCTOR HUGO CÁRDENAS - Há razões de procedimentos e de
conteúdo. O trâmite desta
Constituinte não estava de
acordo com a Lei de Convocatória nem com as leis do país. O
texto deveria ter sido aprovado
em Sucre, mas foi levado a outro município, a um recinto militar, o que é ilegal. E, depois, no
Congresso, em meados de outubro, um grupo de parlamentares do MAS (Movimento ao
Socialismo) e do Podemos
(oposição) se reúnem e modificam cerca da metade dos 411 artigos. O Congresso não tem essa faculdade legal, porque usurpa a Assembleia Constituinte.
Com relação ao conteúdo. O
primeiro problema é que este
texto cria uma cidadania de primeira e outra de terceira. Cidadãos como eu, de origem indígena, temos mais direitos que
os não indígenas. Isso contraria
a Declaração Universal dos Direitos do Homem, na qual está
o princípio da igualdade.
Segunda objeção: se desconhece a unidade boliviana e se
fragmenta o país em 36 nações
e povos indígenas. Não há nenhum estudo sério que demonstre cientificamente a
existência dessas 36 nações.
A minha terceira objeção: a
Justiça boliviana não funciona
maravilhosamente hoje, mas
sou contra a criação de 36 sistemas judiciais independentes.
Se você atropela involuntariamente uma pessoa em território quéchua, a Justiça será aplicada, e você terá de acatar. Não
há o princípio de apelação a
uma instância superior.
FOLHA - E com relação à economia?
CÁRDENAS - É uma loucura. As
empresas públicas devem ter
pelo menos 51% [de participação] do Estado boliviano. Mas
os dividendos têm de ser obrigatoriamente reinvestidos na
empresa. Não podem sair do
país. E, se houver um conflito
entre o investidor estrangeiro e
o Estado, não se aceita arbitragem internacional. Qualquer
país, inclusive Venezuela e Cuba, aceita arbitragem internacional. Nessas condições, nenhuma empresa virá à Bolívia.
O texto impede, ataca, afugenta
o investimento estrangeiro.
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