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Favela organiza brigadas de autodefesa
LUÍS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE
Moradores de Cité Soleil, favela de Porto Príncipe, se organizaram em brigadas de autodefesa para se protegerem de
criminosos que fugiram da prisão após o terremoto do último
dia 12. Dois líderes de gangues
foram mortos e esquartejados a
golpes de facão. A mutilação é
parte da cultura vodu local.
"Eu não me preocupo com a
segurança porque no meu bairro organizamos uma brigada
para fazer a nossa própria segurança. Assim nos defendemos
dos bandidos", disse Jean Claude Noel, 38, morador local.
As brigadas são formadas por
homens e mulheres que não
possuem armas de fogo, mas
sim foices, martelos e facas.
Eles querem se defender contra os 5.500 detentos que fugiram das cadeias haitianas, inutilizadas com o sismo, e que
pretendam reorganizar suas
gangues em bairros pobres.
A Minustah (missão de paz
da ONU) debelou as últimas
gangues e grupos armados que
agiam na favela em maio de
2007. Os militares acreditam
que, uma vez livres das gangues, os moradores não estão
dispostos a acobertá-los ou
mesmo tolerá-los novamente.
Um dos líderes de gangues
mortos pela população é o criminoso conhecido como Blade.
"Os moradores contaram
que um grupo de mulheres armadas com facões entraram na
casa de um dos líderes de gangue e o mataram junto com toda a família. Elas picaram o corpo e jogaram em um rio em Ti-Haiti [parte de Cité Soleil]",
disse a embaixatriz Rosena
Kipman, que realiza trabalhos
sociais na favela desde 2007.
"Não tenho mais medo dos
bandidos de Cité Soleil porque
eles são mortos se entram aqui.
Já mataram dois", diz a moradora Lunie Marcelin, 57.
Vodu
Segundo Marcelin, a prática
de esquartejar os corpos faz
parte da cultura relativa ao vodu, não sendo necessariamente
elemento da religião propriamente dita. Essa cultura diz
que, se uma pessoa tem parte
do corpo decepada, terá problemas físicos quando reencarnar.
Isso explica o fato de muitos
haitianos queimarem os corpos
dos parentes que tiveram
membros decepados. Uma vez
queimados, eles poderiam renascer sem problemas físicos.
Aqueles considerados criminosos são esquartejados e apedrejados, para que suas almas não
possam mais reencarnar.
Segundo o general Floriano
Peixoto, comandante militar da
Minustah, a situação de violência em Cité Soleil está controlada e não mudou após o sismo.
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