São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Chávez tira do ar emissora de TV a cabo oposicionista

Presidente justifica medida alegando que RCTV descumpriu nova regulação do setor

Rede já havia sido alvo de ataque do governo em 2007; caso acirra tensão na Venezuela, que sofre crise energética e econômica

DA REDAÇÃO

Atendendo a uma ordem do presidente Hugo Chávez, a autoridade venezuelana de regulação de TVs a cabo e por satélite suspendeu ontem a transmissão da emissora RCTV, abertamente antigoverno.
A decisão, condenada pelos EUA e pela oposição, soma-se a uma longa lista de ataques à imprensa por parte de Chávez e acirra tensões políticas no país, que está envolto numa crise energética e econômica.
A Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel) cortou à meia-noite de ontem o sinal da RCTV (Radio Caracas Televisión Internacional), alvo principal de uma medida que atingiu outras cinco emissoras privadas.
O governo alega que a RCTV descumpriu a nova legislação do setor que entrou em vigor na semana passada, obrigando todos os canais com ao menos 70% do conteúdo produzido na Venezuela a transmitirem programas oficiais sempre que as autoridades pedirem.
No sábado, a emissora oposicionista se recusou a transmitir um discurso dirigido por Chávez a simpatizantes.
"Se os canais não respeitarem a lei, não poderão retomar suas transmissões. A decisão é deles, não nossa", disse Chávez ontem em seu pronunciamento semanal de rádio e TV.
Um advogado da RCTV entrou com pedido na Suprema Corte para suspender a aplicação da nova regulação no setor.
Um dos canais mais populares na Venezuela, a RCTV havia migrado para a TV a cabo em 2007, quando o governo decidiu não renovar a licença do canal para transmitir na TV aberta. A razão alegada por Chávez foi o suposto apoio da RCTV ao golpe de Estado que tentou, em vão, derrubá-lo em 2002.
Desde que saiu da programação aberta, a emissora perdeu audiência, mas se manteve popular. A RCTV afirma que sua programação é acompanhada regularmente por ao menos 90% dos assinantes de TV a cabo -presente em ao menos um terço dos lares do país.
Dezenas de veículos, entre os quais 34 emissoras de rádio e duas emissoras TV, já foram alvo de sanções do governo venezuelano nos últimos anos.
Analistas afirmam que a nova ofensiva contra veículos de comunicação mostra que Chávez está acuado e tenso, oito meses antes das eleições legislativas nas quais ele pode perder o controle do Parlamento.

Apoio na berlinda
Embora ainda seja de longe o político mais popular do país, Chávez enfrenta crescentes dificuldades internas que ameaçam minar a base de seu apoio.
A Venezuela registrou em 2009 uma queda de 2,9% do PIB, na primeira recessão em cinco anos. O país sofre também com um racionamento de energia, que obrigou o governo a reduzir o horário das repartições públicas e do funcionamento de shopping centers.
A crise energética causa apagões e racionamento de energia, o que tem levado manifestantes às ruas para reclamar.
Chávez pediu que os venezuelanos tomassem banho de três minutos e usassem lanternas para ir ao banho à noite como formas de diminuir o consumo. Para os críticos, a culpa é dos atrasos nos investimentos.
Há duas semanas, Chávez anunciou a maior desvalorização da moeda nacional, o bolívar, desde que implantou o controle de câmbio, em 2003. Autoridades admitem que a medida aumentará a inflação, uma das maiores na região.


Com agências internacionais


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