São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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XENOFOBIA DIVIDIDA
Grupo contrário à liderança de Le Pen elege Bruno Megret como novo presidente da Frente Nacional
Congresso racha extrema direita da França

das agências internacionais

A francesa Frente Nacional (FN), o maior partido de extrema direita da Europa Ocidental, rachou ontem, após o líder rebelde Bruno Megret ter sido aclamado presidente da agremiação fundada por Jean-Marie le Pen há 25 anos.
Megret, 49, candidato único à presidência do partido em um congresso especial organizado por sua facção rebelde, obteve o apoio de 86% dos 2.300 delegados que compareceram ao encontro, na cidade de Marignane (sul), um reduto eleitoral da FN.
Os delegados depois nomearam Le Pen "presidente honorário" do partido. Entre os rebeldes está a filha de Le Pen Marie-Caroline, que brigou publicamente com o pai.
Le Pen, 70, boicotou o congresso, que chamou de uma reunião ilegal de golpistas. Sobre Megret, disse que o rival é um "psicopata" que pensa ser Napoleão.
A cisão deixa a França com duas FN, ambas determinadas a apresentar sua lista própria de candidatos nas eleições do Parlamento Europeu de junho.
A facção de Megret disse que seu partido será chamado Frente Nacional-Movimento Nacional, para diferenciá-lo do de Le Pen.
Meses de batalha jurídica são esperados agora, com as duas facções brigando por nome, símbolos, subsídios estatais eleitorais e sedes do partido.
Mas a batalha principal será pelos votos dos franceses. A direita tradicional, em minoria no Parlamento, espera que a divisão na extrema direita lhe permita recuperar votos de eleitores insatisfeitos, embora pesquisas recentes mostrem que a Frente Nacional deve manter a maioria de seus votos, seja para a facção de Megret, seja para a de Le Pen.
"Foi como o marido perfeito observar a sua mulher deixando-o", disse Le Pen à TV francesa ontem sobre a ação dos rebeldes, prevendo que sua facção irá manter a esmagadora maioria dos votos da FN.
Para Megret, seu partido deve ficar em terceiro lugar nas eleições de junho, atrás dos socialistas do premiê Lionel Jospin e da gaullista Reunião pela República (direita), do presidente Jacques Chirac.
Nas eleições presidenciais de 2002, Megret previu ontem que seu grupo obterá 30% dos votos, comparados aos 15% dos votos nacionais que a FN costuma obter sob a liderança de Le Pen.
A xenófoba FN costuma fazer campanha contra os imigrantes ilegais e a favor de valores tradicionais franceses.
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Xenofobia
Atualmente, o partido não tem representantes no Parlamento federal e ocupa apenas algumas prefeituras de cidades pequenas no sul da França.
Tanto Megret quanto Le Pen acusam os imigrantes de "contaminarem" a cultura francesa e a União Européia. Os dois líderes também são contra o aumento do poder da União Européia em detrimento do governo nacional francês, um processo que, eles dizem, está corroendo a soberania da França.
Mas Megret defende alianças estratégicas com a direita tradicional, enquanto Le Pen prefere o atual isolamento total do partido, uma espécie de pária da política francesa.
Megret prometeu aos simpatizantes manter o programa e os valores do partido e tentar obter novos eleitores. "Nossa ambição é unir o povo francês para garantir o futuro do nosso país", disse ele.
Le Pen, que participou de um ato eleitoral à noite em Orleans (80 km ao sul de Paris), considerou o congresso de Marignane um "lamentável ato de traição" e disse que daria "um pontapé no traseiro" se visse alguém que participou do ato rebelde.



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