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Estado ausente enfraquece Partido Colorado
DO ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
Além do aumento do peso
das exportações agrícolas na
economia, outra mudança em
curso no Paraguai é o enfraquecimento do Partido Colorado,
que governa o país há 60 anos,
incluídos os 35 anos da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
O grande favorito para vencer as eleições de abril de 2008
é o ex-bispo católico Fernando
Lugo, que lidera um movimento de esquerda. Como o Vaticano não aceitou sua renúncia,
sua candidatura será motivo de
batalha jurídica (a Constituição
proíbe que sacerdotes de qualquer religião concorram a cargos eletivos).
Os colorados foram os grandes beneficiados pela construção de Itaipu, quando várias
fortunas no país surgiram a
partir das obras, e também com
as "reexportações", que dependiam das Alfândegas e da fronteira em "mãos amigas".
Apesar de 80% dos funcionários públicos serem colorados
(não existe concurso no país) e
de quase 60% do eleitorado ser
filiado ao partido, o colorado
Nicanor Duarte, atual presidente, foi eleito em 2003 com
apenas 37% dos votos.
Talvez a melhor explicação
para a decadência colorada seja
a persistente pobreza do país.
Apesar do boom exportador e
até de algumas poucas reformas no Estado paraguaio, a população ainda vive na miséria.
Soja e carne, aliás, os maiores
produtos de exportação, não
geram muitos empregos em
um país de alto desemprego e
subemprego. A renda per capita é quase um terço da dos vizinhos, de apenas US$ 1.460 contra US$ 5.500, em média, de
Brasil, Argentina e Uruguai.
Apenas uma minoria da população tem acesso a plano de
saúde ou saneamento básico. E
o país vive uma epidemia de
dengue que neste verão já atingiu 10 mil pessoas.
A frustração é palpável, depois de 18 anos de redemocratização. Em 1996, 59% dos paraguaios preferiam um governo
democrático, segundo pesquisa
do instituto Latinobarómetro.
Apesar do apoio a regimes ditatoriais não ter crescido muito, a
preferência pela democracia
despencou para 41%.
Ao contrário da maioria dos
vizinhos, o problema do Paraguai é o tamanho diminuto do
Estado. O país nunca arrecadou
impostos, logo, jamais ofereceu
uma mínima rede de atenção
básica. Considerado reformista, o presidente Nicanor Duarte
implementou uma reforma tributária, baixando impostos
existentes para combater a sonegação e criando outros.
Apenas em 2006, os paraguaios passaram a pagar Imposto de Renda de Pessoa Física, por exemplo, de 10%. A alíquota do Imposto de Renda para empresas foi reduzida de
30% para 10%. E o IVA, a versão
local do ICMS, é de apenas 10%.
Mesmo com a criação dos novos impostos e mais cobrança, a
pressão tributária no país não
chega a 11% do PIB (Produto
Interno Bruto).
"Infelizmente, durante muito tempo o Brasil foi visto aqui
como próximo demais dos colorados. E os colorados sempre
estiveram envolvidos com negócios escusos, com máfias",
diz o deputado opositor Sebastián Acha, do partido Pátria
Querida. "Sempre houve autoridades corruptas dos dois lados, mas o Paraguai é que ficou
com a fama de contrabandista.
Os dois países precisam cooperar mais daqui para a frente."
Contenção de brasiguaios
Em tempos de crise das elites
políticas tradicionais, os 800
mil brasiguaios, que se estabeleceram no país principalmente nos anos 80, são alvo preferencial. "Muitos políticos no
interior recorrem ao nacionalismo e à xenofobia para atiçar
os pobres camponeses contra
os ricos fazendeiros brasiguaios", conta Héctor Cristaldo, presidente da Coordenadora Agrícola do Paraguai.
"Eles têm as grandes fazendas, as grandes máquinas, compram muitas terras, e é claro
que isso gera revolta nos mais
pobres, que ainda vivem de
subsistência."
Em 2004, foi aprovada uma
Lei de Segurança Nacional"
que proíbe a estrangeiros a
compra de terras que estejam
até a 50 km da fronteira. Sob
medida para conter os brasiguaios. Ainda não se fala de expropriação.
(RJL)
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