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ONG quer boicotar Olimpíadas na China
Olympic Watch acusa Pequim de quebrar promessa da época da candidatura de melhorar respeito a direitos humanos
Cerceamento da imprensa e falta de indenização a quem teve casa desapropriada por comitê organizador local são parte dos problemas citados
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Milhares de quilômetros separam as duas nações. A realidade de cada uma faz esse fosso
parecer ainda maior. Mas foi na
hoje democrática República
Tcheca que nasceu uma das
ONGs com ataques mais virulentos à realização da Olimpíada de Pequim, em 2008, por
causa da contínua violação aos
direitos humanos na China.
A Olympic Watch surgiu em
julho de 2001, pouco após a capital chinesa vencer a eleição
para abrigar o principal evento
multiesportivo do planeta.
De lá para cá, a organização
vem se destacando por denunciar a falta de liberdade de imprensa, a repressão a dissidentes, o uso de tortura e o número
de condenações à morte.
As reivindicações despertaram apoio de intelectuais e políticos de países como EUA,
Reino Unido e França, trazendo para suas hostes nomes conhecidos como o do escritor
peruano Mario Vargas Llosa.
Os apoios, porém, não foram
efetivos para alterar a situação.
"Apesar das promessas, o governo não melhorou em relação aos direitos humanos", reclama Petr Kutilek, secretário-geral da Olympic Watch.
Para a entidade, a tendência é
até diversa. "Há relatórios confiáveis que destacam o aumento do controle dos meios de comunicação desde que Hu Jintao [presidente] e Wen Jiabao
[premiê] chegaram ao poder
[em 2003]." A ONG Repórteres
Sem Fronteiras lembra a prisão
recente de jornalistas de publicações estrangeiras, como
Zhao Yan ("The New York Times") e Ching Cheong ("Straits
Times", de Cingapura).
Para satisfazer a pressão internacional, a China liberalizou
a atuação da imprensa a partir
do Ano Novo. Intitulado "Regulamento Para Atividades de
Reportagem na China", o documento possui itens óbvios aos
ouvidos ocidentais, como o que
declara: "para entrevistar entidades ou pessoas na China, os
estrangeiros precisam só obter
seu consentimento prévio".
Os repórteres terão livre
acesso a viagens pelo país, sem
precisar de autorizações. Porém, tais regras têm prazo para
expirar: 17 de outubro de 2008,
pouco após o fim dos Jogos.
Para a Olympic Watch, as
normas são ilusórias, já que não
contemplam profissionais chineses. Para complicar, segundo
ela, o Comitê Olímpico Internacional faz vista grossa ao problema. Irritada, em manifesto
recente a ONG pediu a "destituição da diretoria do COI".
"O presidente Jacques Rogge
ignora a realidade. Isso demonstra que é incompetente
para proteger o ideal olímpico e
tomar posição clara sobre a violação dos direitos humanos na
China", afirma o comunicado.
Dirigentes esportivos locais
sofrem acusações graves. Liu
Qi, presidente do Bocog (Comitê Organizador dos Jogos), foi
denunciado por suposto delito
de "crime contra a humanidade" e "genocídio" pela Falun
Gong, movimento criado em
1992, com influências budistas.
Outros membros do comitê
caíram em desgraça após denúncia de malversação de fundos públicos. Foi o caso de Liu
Zhihua, supervisor das obras
das instalações olímpicas, e de
Du Shicheng, secretário-geral
do PC em Qingdao, local que
abrigará as provas de vela.
Para protestar, a ONG tcheca
defende o boicote olímpico, tipo de manifestação que caiu em
desuso. "As conversas das
ONGs com os atletas estão começando. Acreditamos que
eles irão expressar suas opiniões seja não participando das
disputas, seja com outra forma
de atuação", declara Kutilek.
Para engrossar a pressão, pede que o povo também se rebele. "É importante que não só
ativistas internacionais, mas
especialmente os chineses possam se expressar sobre a situação do país. Esperamos que, na
Olimpíada, o governo não
prenda e nem reprima dissidentes. E que não impeça manifestações pacíficas."
Para a Olympic Watch, a preparação para os Jogos promoveu novas infrações aos direitos
humanos. As desapropriações
para a obras olímpicas teriam
posto na rua 300 mil pequineses. "Eles foram desalojados
em troca de pequena ou nenhuma indenização", diz Kutilek.
Procurado pela Folha, o Bocog respondeu que o boicote
aos Jogos "vai contra o princípio e o espírito olímpico".
Para o comitê, as reformas
em Pequim serviram para modernizar a cidade, preservando
locais de interesse histórico e
cultural. Segundo a entidade,
de 1991 a 2003, 550 mil residências foram desapropriadas
ou reformadas "o que gerou
melhorias drásticas nas condições de vida dos cidadãos".
O Bocog ressalta que a preparação do evento "impulsionou não só o desenvolvimento
econômico, mas também a extensão de direitos ao povo".
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