São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Protestos são parte da história olímpica

Desde os Jogos de Berlim-1936, sob Hitler, boicotes por delegações estrangeiras são usados para marcar posição política

Guerra Fria foi principal razão de manifestações, mas também racismo e falta de direitos civis foram execrados no palco olímpico

DA REPORTAGEM LOCAL

Protestos políticos fazem parte da história da Olimpíada ao menos desde os Jogos de Berlim, em 1936, organizados sob os auspícios de Adolf Hitler para destacar a pretensa superioridade ariana no esporte.
Na época, houve protestos da comunidade judaica dos EUA, que pedia o boicote. Após a decisão dos norte-americanos de competir na Alemanha, várias universidades impediram que seus atletas viajassem ao país.
Reação semelhante ocorreu na França diante da militarização da fronteira da Renânia, um prenúncio de que poderia haver novo conflito na Europa.
O Reino Unido, por sua vez, demorou um ano para aceitar o convite para participar. Prevaleceu a visão do então chanceler -e depois primeiro-ministro- Neville Chamberlain, de que não se devia misturar esporte com política -algo que não faltou na capital alemã.
Houve eventos paralelos como os Jogos Judaicos de Telaviv, em 1935, e a Olimpíada Popular, em Barcelona, que acabou interrompida pela eclosão da guerra civil espanhola -a Espanha se recusou a enviar competidores a Berlim.

Panteras negras
Novo protesto significativo ocorreria no México, em 1968.
Durante cerimônia de premiação, Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 m rasos, ergueram a mão, envolvida em luvas negras, e abaixaram a cabeça enquanto soava o hino dos EUA. Integrantes dos Panteras Negras, grupo radical do movimento civil pelos direitos da minoria étnica, protestavam contra as tensões raciais que ocorria em seu país.
Novos boicotes políticos ocorreram em Montréal, em 1976. Algumas nações africanas protestaram contra a presença da Nova Zelândia. O país havia mandado um time de rúgbi para jogar na África do Sul, banida do esporte devido à política de segregação racial do apartheid. Como não foram atendidos, 26 países do continente, além de Iraque e Guiana, não viajaram.
Os Jogos seguintes, em Moscou-1980, foram ainda mais esvaziados. Alegando que a invasão ao Afeganistão pela antiga União Soviética, ocorrida um ano antes, feria o direito internacional, os EUA, sob o governo do democrata Jimmy Carter, não enviaram delegação.
O protesto foi seguido por 64 países, entre os quais Alemanha Ocidental, Canadá e China. Reino Unido e Austrália competiram sob bandeira olímpica.
Em retaliação, a URSS não foi a Los Angeles em 1984. Teve apoio de todo o Leste europeu -com exceção da Romênia-, além de aliados como Cuba, Coréia do Norte e Etiópia.
Os norte-coreanos bisaram a deserção aos Jogos seguintes, programados para a vizinha do sul, Seul, em 1988. Cuba, Etiópia, Nicarágua e Albânia engrossaram esse protesto.
A ausência ainda era sintoma da Guerra Fria, que se tornaria quase sem sentido um ano depois, com a queda das ditaduras comunistas sob a Cortina de Ferro. Sem bipolarização do mundo, não houve mais boicotes significativos aos Jogos.
(ADALBERTO LEISTER FILHO)


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