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Protestos são parte da história olímpica
Desde os Jogos de Berlim-1936, sob Hitler, boicotes por delegações estrangeiras são usados para marcar posição política
Guerra Fria foi principal razão de manifestações, mas também racismo e falta de direitos civis foram execrados no palco olímpico
DA REPORTAGEM LOCAL
Protestos políticos fazem
parte da história da Olimpíada
ao menos desde os Jogos de
Berlim, em 1936, organizados
sob os auspícios de Adolf Hitler
para destacar a pretensa superioridade ariana no esporte.
Na época, houve protestos da
comunidade judaica dos EUA,
que pedia o boicote. Após a decisão dos norte-americanos de
competir na Alemanha, várias
universidades impediram que
seus atletas viajassem ao país.
Reação semelhante ocorreu
na França diante da militarização da fronteira da Renânia,
um prenúncio de que poderia
haver novo conflito na Europa.
O Reino Unido, por sua vez,
demorou um ano para aceitar o
convite para participar. Prevaleceu a visão do então chanceler -e depois primeiro-ministro- Neville Chamberlain, de
que não se devia misturar esporte com política -algo que
não faltou na capital alemã.
Houve eventos paralelos como os Jogos Judaicos de Telaviv, em 1935, e a Olimpíada Popular, em Barcelona, que acabou interrompida pela eclosão
da guerra civil espanhola -a
Espanha se recusou a enviar
competidores a Berlim.
Panteras negras
Novo protesto significativo
ocorreria no México, em 1968.
Durante cerimônia de premiação, Tommie Smith e John
Carlos, ouro e bronze nos 200
m rasos, ergueram a mão, envolvida em luvas negras, e abaixaram a cabeça enquanto soava
o hino dos EUA. Integrantes
dos Panteras Negras, grupo radical do movimento civil pelos
direitos da minoria étnica, protestavam contra as tensões raciais que ocorria em seu país.
Novos boicotes políticos
ocorreram em Montréal, em
1976. Algumas nações africanas
protestaram contra a presença
da Nova Zelândia. O país havia
mandado um time de rúgbi para jogar na África do Sul, banida
do esporte devido à política de
segregação racial do apartheid.
Como não foram atendidos, 26
países do continente, além de
Iraque e Guiana, não viajaram.
Os Jogos seguintes, em Moscou-1980, foram ainda mais esvaziados. Alegando que a invasão ao Afeganistão pela antiga
União Soviética, ocorrida um
ano antes, feria o direito internacional, os EUA, sob o governo do democrata Jimmy Carter, não enviaram delegação.
O protesto foi seguido por 64
países, entre os quais Alemanha Ocidental, Canadá e China.
Reino Unido e Austrália competiram sob bandeira olímpica.
Em retaliação, a URSS não
foi a Los Angeles em 1984. Teve
apoio de todo o Leste europeu
-com exceção da Romênia-,
além de aliados como Cuba,
Coréia do Norte e Etiópia.
Os norte-coreanos bisaram a
deserção aos Jogos seguintes,
programados para a vizinha do
sul, Seul, em 1988. Cuba, Etiópia, Nicarágua e Albânia engrossaram esse protesto.
A ausência ainda era sintoma
da Guerra Fria, que se tornaria
quase sem sentido um ano depois, com a queda das ditaduras
comunistas sob a Cortina de
Ferro. Sem bipolarização do
mundo, não houve mais boicotes significativos aos Jogos.
(ADALBERTO LEISTER FILHO)
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