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Ilha privilegiou "velha-guarda" para controlar expectativas
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Se a confirmação de Raúl
Castro no posto máximo em
Cuba era esperada, para analistas da ilha a promoção de José
Ramón Machado Ventura, 77,
ao posto de número 2 em certa
medida surpreende e aponta
uma estratégia do regime de
tentar mostrar que estará a cargo do "grupo histórico" ou dos
"barbudos" administrar o ritmo das reformas, principalmente econômicas, no país.
A escolha de ontem mudou o
número mínimo de posições no
tabuleiro, de modo a contribuir
para o controle de expectativas
em relação ao governo Raúl
-nesse jogo, é o discurso do
empossado ontem que concentra os sinais de onde e quando
as mudanças se darão.
"O que importa para o bem-estar do povo cubano, e para a
dinâmica política da ilha neste
ano, são ações e resultados. O
governo, sob Raúl, gastou o último um ano e meio diagnosticando problemas econômicos,
avaliando idéias de novas políticas públicas, e alimentando
expectativas sobre mudanças
econômicas. Neste ano, o governo vai entregar o que prometeu ou decepcionar", escreveu à Folha, Phil Peters, especialista do Lexington Institute.
Ramón Machado Ventura
era um dos cinco vice-presidentes do Conselho de Estado
e responsável pela organização
do Partido Comunista. É o homem a quem Fidel Castro confiou em 2006, quando adoeceu,
a co-direção do programa de
educação do país, tarefa cara
no programa fidelista de formação "ideológica-revolucionária" dos jovens.
"Por sua reputação, poderia
se esperar dele oposição à abertura econômica. Por outro lado, se reformas já estão sendo
preparadas e ele está a favor, a
eleição é um sinal de consenso,
através de gerações e tendências ideológicas. Como se diz
no mercado, lucros no passado
não são garantia da performance futura", continua Peters.
Jon Lee Anderson, jornalista
da "New Yorker" que trabalha
em livro sobre a ilha, concorda.
"É menos um alerta de que reformas não vão acontecer do
que um movimento para ressaltar que a revolução segue
nas mãos do barbudos e que
aberturas/reformas serão cuidadosamente gerenciadas", escreveu à Folha.
O regime, diz ele, pode ter
evitado a escolha de nomes como Carlos Lage, amplamente
citado para ser o número 2, para afastar a percepção de mudanças mais bruscas "que uma
transferência súbita do poder
aos "jovens'" poderia trazer.
Para Samuel Farber, cubano
professor aposentado da Universidade da Cidade de Nova
York, o que há de definitivo é
que as escolhas de ontem são
solução de curto prazo: "A dupla Raúl e Machado Ventura,
pela idade, é, necessariamente
uma formação transitória".
Estilo Raúl e defesa
Em seu discurso ontem, Raúl
Castro reforçou a imagem de
menos concentrador e falante
do que Fidel e reformador moderado -ao menos na economia e a respeito do "excesso de
regulamentações"- que vem
cultivando em 19 meses de governo interino. No ano passado, o novo líder da ilha fez um
chamado interno ao debate
"sincero" sobre os problemas
de Cuba. Mas ainda se discute
os limites dessa iniciativa.
Na economia, a ênfase do governo interino foi o desabastecimento de alimentos. Uma das
metas de Raúl é dinamizar a
produção das empresas estatais -as mais rentáveis e promissoras estão nas mãos de militares da confiança de Raúl, como Julio Casas Regueiro, 72.
Não por acaso, Regueiro foi um
dos poucos a se mover no tabuleiro ontem: virou um dos cinco
vice-presidentes do Conselho
de Estado e foi nomeado ministro da Defesa, função antes acumulada pelo novo comandante.
Colaborou LUCIANA COELHO
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