São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Havana minimiza sucessão, sem ver ruptura

DA ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O presidente reeleito da Assembléia Nacional do Poder Popular de Cuba, Ricardo Alarcón, disse ontem que a eleição de Raúl Castro foi unânime. Mas, na ilha, não se pôde testemunhar o fato histórico, nem pela TV. A emissora oficial primeiro passou um filme preto-e-branco sobre a guerrilha em Sierra Maestra, onde tudo começou, em 1958. Depois, veio com um concerto de Johann Strauss 2º até as 14h55 (hora local). Só então entrou ao vivo do Palácio das Convenções.
Os cubanos não puderam ver nada ao vivo nem se aproximar do Palácio. O trânsito estava fechado pelo Exército, policiais e agentes de segurança. Um quilômetro antes, sob um outdoor com os guerrilheiros Camilo Cienfuegos e Che Guevara acompanhados da frase "Un otro mundo es possible", os carros caindo aos pedaços que compõem a frota típica de Havana, os cocotáxis (motocicletas com carroceria em forma de côco) e até os carrões americanos antigos tinham de voltar.
Só passavam os Ladas transportando deputados e os Mercedes Benz com placas pretas.
Não se viam televisores ligados no canal do governo, não havia debates entre moradores da cidade. Não havia faixas nem bandeiras de apoio ou contra.
Um veterano da guerra em Angola, quando o governo cubano enviou tropas para combater ao lado dos rebeldes do Movimento Popular de Libertação de Angola, na campanha pela libertação colonial do país, recebeu a Folha em sua casa no bairro de Miraflores, onde também funciona o Comitê de Defesa da Revolução (CDR), órgão de fiscalização, controle e zeladoria de vizinhanças.
Para José, 52, a aparente indiferença do povo em relação à sucessão deriva da certeza de que tudo continuará igual.
"Não há ruptura nem transição. O que existe é uma tristeza pela ausência de um homem que esteve conosco em todos os momentos dos últimos 50 anos. Seja dando-nos ânimo quando uma safra tinha sido ruim, seja nos discursos, seja ensinando-nos como cozinhar o feijão sem gastar tanto combustível", afirmou. "Sentiremos falta dele", disse, chorando. (LAURA CAPRIGLIONE)


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