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Havana minimiza sucessão, sem ver ruptura
DA ENVIADA ESPECIAL A HAVANA
O presidente reeleito da Assembléia Nacional do Poder
Popular de Cuba, Ricardo Alarcón, disse ontem que a eleição
de Raúl Castro foi unânime.
Mas, na ilha, não se pôde testemunhar o fato histórico, nem
pela TV. A emissora oficial primeiro passou um filme preto-e-branco sobre a guerrilha em
Sierra Maestra, onde tudo começou, em 1958. Depois, veio
com um concerto de Johann
Strauss 2º até as 14h55 (hora
local). Só então entrou ao vivo
do Palácio das Convenções.
Os cubanos não puderam ver
nada ao vivo nem se aproximar
do Palácio. O trânsito estava fechado pelo Exército, policiais e
agentes de segurança. Um quilômetro antes, sob um outdoor
com os guerrilheiros Camilo
Cienfuegos e Che Guevara
acompanhados da frase "Un
otro mundo es possible", os
carros caindo aos pedaços que
compõem a frota típica de Havana, os cocotáxis (motocicletas com carroceria em forma de
côco) e até os carrões americanos antigos tinham de voltar.
Só passavam os Ladas transportando deputados e os Mercedes Benz com placas pretas.
Não se viam televisores ligados no canal do governo, não
havia debates entre moradores
da cidade. Não havia faixas nem
bandeiras de apoio ou contra.
Um veterano da guerra em
Angola, quando o governo cubano enviou tropas para combater ao lado dos rebeldes do
Movimento Popular de Libertação de Angola, na campanha
pela libertação colonial do país,
recebeu a Folha em sua casa no
bairro de Miraflores, onde
também funciona o Comitê de
Defesa da Revolução (CDR),
órgão de fiscalização, controle
e zeladoria de vizinhanças.
Para José, 52, a aparente indiferença do povo em relação à
sucessão deriva da certeza de
que tudo continuará igual.
"Não há ruptura nem transição. O que existe é uma tristeza
pela ausência de um homem
que esteve conosco em todos os
momentos dos últimos 50
anos. Seja dando-nos ânimo
quando uma safra tinha sido
ruim, seja nos discursos, seja
ensinando-nos como cozinhar
o feijão sem gastar tanto combustível", afirmou. "Sentiremos falta dele", disse, chorando.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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