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Kosovares da diáspora festejam independência
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O comerciante kosovar Arsim Gashi tem 37 anos, quase
metade deles vividos em Genebra. Em 1991, depois de desertar do Exército sérvio por se recusar a lutar uma guerra que
não considerava sua, fugiu para
a Suíça, abandonando a família
e um país que desmoronava.
Nesta semana, Arsim se juntou a uma multidão de expatriados espalhada pela Europa
que celebrou de longe o nascimento de seu país, o sétimo a
surgir dos escombros da antiga
Iugoslávia. Assim como a maioria dos que formam essa diáspora de quase meio milhão de
pessoas, ele pretende continuar a festa a distância.
"Minha vida é aqui", diz o negociante de diamantes, protegido do frio em um grosso casaco
com gola de pele. "Quando a independência foi declarada, liguei para minha mãe, que ficou
em Kosovo, e choramos de felicidade. Mas nós dois sabemos
que não vou voltar."
Mesmo para uma mãe saudosa, a escolha de Arsim não é difícil de entender. Afinal, como
trocar a estabilidade da Suíça,
uma das dez economias mais
ricas do mundo, pela frágil euforia de um país com metade da
população desempregada, mergulhado em corrupção e dependente em tudo das benesses de
seus padrinhos ocidentais?
Os números mostram que
talvez seja melhor para quem
ficou em Kosovo que seus parentes continuem no exílio,
mantendo o fluxo de dinheiro
para a pátria de origem. Segundo pesquisa de dezembro do
Fórum 2015, as remessas da
diáspora são responsáveis por
14% do PIB do território.
O mesmo estudo mostra que
a grande maioria dos kosovares
no exterior está concentrada na
Alemanha (39%) e na Suíça
(23%). O impacto dessa onda
migratória reforçou alguns preconceitos, ajudados por estatísticas que mostram a ligação entre estrangeiros e crime.
Aversão
São números que a direita
nacionalista não hesita em
usar. Na semana passada, a
UDC, que tem a maior bancada
no Parlamento, apresentou petição com mais de 200 mil assinaturas para modificar a lei,
permitindo a expulsão automática de estrangeiros condenados por crimes como estupro,
assassinato e tráfico de drogas.
Considerada racista pela esquerda, a proposta é resultado
de uma visão sem maquiagem
da realidade, rebate a UDC. "Se
50% dos delitos no país são cometidos por estrangeiros, que
por sua vez só compõem 20%
da população, a conexão entre
crimes e estrangeiros me parece óbvia", disse à Folha Alain
Hauert, porta-voz da UDC.
O partido causou polêmica
durante a última campanha
com cartazes que mostravam o
estrangeiro como uma ovelha
negra sendo empurrada para
fora da bandeira suíça.
Um caso recente de violência
chocou a opinião pública e deu
força ao discurso direitista defendido pelo partido de
Hauert, além de piorar a imagem dos imigrantes dos Bálcãs.
No começo do mês, um estudante foi espancado até a morte por três jovens croatas, durante o Carnaval de Locarno.
Na semana passada, pesquisa
feita pelo jornal "Le Matin" indicou que 69% dos entrevistados são favoráveis à expulsão
de estrangeiros que cometem
crimes em território suíço.
Amparados por fatos ou reféns de preconceitos, a verdade
é que muitos suíços desenvolveram uma aversão especial
aos imigrantes da antiga Iugoslávia, entre eles os kosovares.
"A maioria tem envolvimento com drogas e roubo", diz Richard, funcionário público que
não revela o sobrenome. "Agora que têm seu próprio país,
porque não voltam para lá?"
Janine Dahinden, estudiosa
de migração da Universidade
de Neuchatel, diz que os preconceitos variam ao sabor das
transformações demográficas.
"Nos anos 60, era contra os
italianos. Hoje, é contra os imigrantes dos Bálcãs, apesar de
pelo menos um quinto deles já
ter nascido na Suíça", diz.
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