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Putin dispensa propaganda de sucessor
Com eleição de seu escolhido virtualmente assegurada, presidente apela para que russos votem no domingo
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
A uma semana da eleição para presidente da segunda potência nuclear do mundo, o
"candidato" mais visível nas
ruas de Moscou é o apelo do governo de Vladimir Putin para
que os eleitores compareçam
às urnas no próximo domingo.
Placas, outdoors, inéditas
propagandas dentro do metrô e
até nos bilhetes para entrar nas
estações, é tudo uniforme: "2
de março - Eleição presidencial
- Federação Russa", sobre a
bandeira e o brasão russos.
Onde está Dmitri Medvedev,
o escolhido por Putin para sucedê-lo e virtual presidente
eleito, segundo pesquisas, analistas e adversários? Em um ou
outro outdoor nas avenidas que
circundam o centro moscovita,
acompanhado por ainda menos
freqüentes Vladimir Jirinovski
(Partido Liberal Democrático)
e Gennadi Ziuganov (o eterno
líder do Partido Comunista
pós-soviético).
"Repare como Putin está
sempre ao lado de Medvedev",
aponta a garçonete Misha, que
trabalha numa espécie de cartão-postal da transição russa, a
Starlight Diner -em sua filial,
perto da praça Kalujskaia, é
possível ver uma enorme estátua de Lênin de dentro de um
típico restaurante americano.
Fato: Medvedev está sempre
ao lado do mentor e, ao que tudo indica, futuro primeiro-ministro russo. A sinergia, digamos assim, é tão grande que, se
não fosse pelo esquema de cores, seriam quase indistingüíveis os site das campanhas de
Putin em 2004 (www.putin2004.ru) e do atual vice-primeiro-ministro (www.medvedev2008.ru).
Legitimação
As últimas pesquisas dão o
candidato do partido pró-Kremlin Rússia Unida com algo por volta de 70% das intenções de voto, contra distantes
15% dos comunistas.
Por isso, a intensa campanha
pelo comparecimento é vista
como uma forma de o Kremlin
legitimar a "unção" do jovem
Medvedev, um fã de rock pesado de 42 anos. A meta decantada por analistas em jornais é a
de repetir o comparecimento
da eleição parlamentar de dezembro passado, de 64%.
Como o voto não é obrigatório no país, há o temor de que
uma baixa presença seja prejudicial ao possível novo presidente, que nunca foi eleito para
nenhum cargo.
Medvedev tem tido encontros de campanha pelas regiões
russas. Na capital, anteontem, a
Folha esbarrou em duas pequenas marchas, uma feita por
Jirinovski perto da estação
Pushkinskaia, no centro da cidade, e outra de comunistas em
torno da estátua do poeta revolucionário Vladimir Maiakovski, um quarteirão acima.
"Voto no Ziuganov porque
ele vai acabar com essa coisa de
ricos andando como se fossem
melhores que os outros", disse
uma eleitora quase arquetípica,
Svletana Norodova, septuagenária e pensionista.
Na marcha do ultranacionalista Jirinovski, com a fugaz
presença do próprio, alguns jovens falavam da questão de Kosovo. "Tínhamos que fazer algo", afirmou
O reconhecimento da independência da ex-Província sérvia é um dos temas prediletos
dos políticos russos, que não
perdem uma chance para usar
a retórica pan-eslava que não
parece ter muito lugar no século 21, mas é tão popular quanto
os discursos anti-Ocidente.
Ontem foi a vez da Chancelaria da Rússia. "O apoio a um lado albanês de Kosovo, indiferença ao destino de 100 mil
sérvios que estão sendo na verdade enviados a um gueto no
século 21, isso é puro cinismo",
disse uma nota, em referência à
posição norte-americana.
O chanceler Serguei Lavrov,
junto com Medvedev, chega
hoje à Sérvia.
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