São Paulo, terça, 25 de março de 1997.

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PARCERIA SOB PRESSÃO
Vice-presidente Al Gore é a mais alta autoridade norte-americana desde 1989 a visitar o país
EUA esquecem liberalismo e vão à China

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O vice-presidente dos EUA, Al Gore, tornou-se ontem a mais alta autoridade do governo dos EUA a visitar a China desde o massacre da praça da Paz Celestial, há oito anos, quando centenas de manifestantes pró-democracia foram mortos no centro de Pequim.
Ele disse que sua principal missão é "continuar a construir uma paz duradoura entre China e EUA". No Japão, antes de embarcar para Pequim, Gore prometeu pressionar os dirigentes chineses para que aumentem o respeito aos direitos humanos em seu país.
Em Washington, o líder do governo na Câmara, Dick Gephardt, anunciou que vai se opor à manutenção do status da China como "nação mais favorecida" nas relações comerciais com os EUA, quando o assunto estiver no Congresso a partir de junho.
Gephardt, um dos poucos possíveis desafiantes de Gore no Partido Democrata para a eleição presidencial de 2000, argumenta que um país que não respeita os direitos humanos não merece a condição de parceiro comercial privilegiado dos Estados Unidos.
A primeira solenidade de que Gore participou em Pequim foi a do anúncio de que a China vai assinar contrato de dezenas de milhões de dólares com a Boeing para a compra de aviões. Ao seu lado, estava o primeiro-ministro Li Peng, um dos executores do massacre da praça da Paz Celestial.
Além da questão dos direitos humanos, outros pontos da agenda bilateral sino-americana provocam tensões: o crescente déficit da balança comercial dos EUA diante da China, a venda a outros países de tecnologia chinesa de mísseis e ingredientes para armas químicas e as acusações de que o governo chinês tentou influenciar o resultados das eleições norte-americanas de 1996, inclusive com doações para a campanha de reeleição de Bill Clinton e Al Gore.
Gore usou poemas chineses do século 10 para descrever sua missão em Pequim. "Se você deseja uma vista maior, então você precisa escalar alturas maiores". Em outro momento de seu discurso ao chegar a Pequim, Gore disse: "A paisagem da relação de EUA e China tem muitos rios, alguns correndo juntos, outros separados".
Hoje, Gore se encontra com o presidente Jiang Zemin. Vai tentar obter dele o compromisso de que as liberdades civis em Hong Kong serão mantidas a partir de 1º de julho, quando termina o domínio do Reino Unido sobre a ilha, que será reincorporada à China.
Gore também tentará conseguir de Zemin a promessa de que a China vai diminuir a emissão de gases que provocam o "efeito estufa" na atmosfera e o seu apoio para a realização de negociações de paz entre as duas Coréias.
No domingo, o presidente da Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA, Newt Gingrich, parte para a China à frente de delegação de 12 parlamentares dos dois grandes partidos políticos norte-americanos. Gingrich, da oposição, afirmou que vai se articular com o governo antes de sua chegada à China.

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