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Movimento insurrecional albanês é fragmentado
DA REDAÇÃO
O Exército de Libertação Nacional, da Macedônia (UCK-M), é
um grupo insurrecional de cerca
de 300 macedônios de origem albanesa, apoiado por parte do
UCK kosovar -o movimento armado que, ao opor-se ao jugo do
então ditador iugoslavo, Slobodan Milosevic, desencadeou a
Guerra de Kosovo (1999).
De acordo com especialistas em
questões balcânicas, o UCK-M
não recebe auxílio da cúpula do
UCK kosovar, mas de dissidentes,
provavelmente os mais radicais,
que, ao se verem excluídos do
processo político, decidiram relançar-se num conflito armado.
"Os kosovares que apóiam o
UCK-M são aqueles que se sentem marginalizados pelo processo político em curso na Província
(sérvia) de Kosovo. Nas eleições
de outubro passado, mais de 60%
das cidades kosovares foram conquistadas pelo partido moderado
de Ibrahim Rugova, a Liga Democrática de Kosovo", explicou à Folha Jacques Rupnik, diretor de
pesquisas do Centro de Estudos
em Relações Internacionais, de
Paris, na França.
Isso representou uma derrota
terrível para aqueles que se consideravam como os heróis da libertação do domínio de Milosevic.
Os líderes do levante da comunidade albanesa kosovar mostraram-se vulneráveis politicamente,
pois o UCK recebeu apenas cerca
de 25% dos votos nas eleições do
ano passado.
"Ante essa derrota, houve alguns membros do UCK que perceberam que era hora de transformar-se de rebeldes em políticos
democráticos, o que é um processo lento", afirmou Rupnik.
"Os mais radicais, por outro lado, acharam necessário retomar a
iniciativa armada, já que não haviam sido desarmados pelas forças da Otan (aliança militar ocidental), e exportar o conflito étnico para a Macedônia. Com isso,
colocaram em xeque toda a simpatia e o apoio político internacionais que os kosovares de origem albanesa haviam conquistado durante e após a Guerra de Kosovo", acrescentou.
O UCK-M também tem recebido auxílio dos rebeldes de origem
albanesa do vale de Presevo, no
sul da Sérvia, em sua luta contra
as forças de segurança macedônias. Porém os dois grupos são intrinsecamente diferentes e vivem
situações distintas.
O UCK-M diz lutar pela melhoria das condições de vida da comunidade albanesa, para que ela
alcance os mesmos direitos da
maioria eslava. Contudo apenas
os guerrilheiros macedônios de
origem albanesa mais radicais defendem a secessão do país e a anexação da parte albanesa a Kosovo.
No sul da República iugoslava
da Sérvia, mais precisamente na
região das cidades de maioria albanesa -Presevo, Bujanovac e
Medvedja-, até mesmo os políticos moderados chamam o vale
em que vivem de "Kosovo Oriental", para lembrar que ele foi separado da Província sérvia em 1947.
"Os albaneses da Macedônia
buscam a criação de uma estrutura política na qual eles e os eslavos
tenham os mesmo direitos. Já os
albaneses do vale de Presevo querem uma grande autonomia, como a conquistada por Kosovo",
disse à Folha Shinasi Rama, professor na Universidade Columbia
e ex-editor-chefe do "International Journal of Albanian Studies".
Grupo fragmentado
Assim como o UCK kosovar, o
UCK-M é um grupo bastante
fragmentado, sem uma hierarquia clara. Segundo William J.
Buckley, professor da Universidade de Georgetown, isso explica
denúncias de que ambos os grupos sejam em parte financiados
por fundos provenientes do tráfico de heroína e de armas.
"A acusação não é falsa, porém
denúncias como essa podem ser
exageradas. Devemos entender
que há vários grupos dentro do
UCK kosovar e, provavelmente,
algumas facções dentro do UCK-M, que é menos numeroso. Grupos paramilitares se formam e dizem ser representantes de um povo. Contudo, na realidade, são
muito fragmentados e, frequentemente, exercem influência apenas
sobre uma região, uma cidade ou
um vilarejo. E cada grupo tem
seus interesses e seus modos de financiamento", analisou Buckley
para a Folha.
Em fevereiro de 1995, numa matéria intitulada "The Balkan Medellin", a "Jane's Intelligence Review", publicação britânica especializada em questões militares e
de defesa, já denunciava a ligação
existente entre o tráfico de heroína e o aumento da criminalidade
nos Bálcãs, sobretudo por parte
das chamadas máfias albanesas.
"A guerrilha albanesa recebe dinheiro do Homeland Calling
Fund, que tem sede na Suíça e
também financiou parte da luta
do UCK kosovar. E sabemos que
esse fundo recebe dinheiro do tráfico de drogas. No entanto a
maior parte do dinheiro usado
pelo UCK-M vem dos albaneses
que vivem no Ocidente", afirmou
à Folha Mary Kaldor, professora
na London School of Economics e
autora de, entre outros livros,
"New and Old Wars: Organized
Violence in a Global Era" (novas e
velhas guerras: violência organizada numa era global).
De acordo com Rama, que não
crê que o dinheiro das drogas financie os esforços insurrecionais
do UCK-M, os albaneses que vivem no exterior, que se concentram principalmente nos EUA, na
Suíça e na Alemanha, chegam a
mais de 500 mil. "Até pouco tempo atrás, os albaneses enviavam
fundos para ajudar suas famílias.
Agora eles o fazem para apoiar o
UCK-M", disse Rama.
(MSM)
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