São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2011

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ANÁLISE

Voto sela mudança de rumo na atuação do Itamaraty, mas não é uma guinada


A RUPTURA COM O MÉTODO AMORIM É SÓ UM ITEM DE POLÍTICA EXTERNA


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Até por ter problemas de trato bem mais importante e difícil, como o fantasma da inflação, Dilma Rousseff parece ter elegido a relação com o Irã como vitrine do que considera novidade positiva em seu governo.
O voto de ontem sela a mudança do rumo adotado pelo Itamaraty sob Celso Amorim, de alinhamento automático com Teerã.
O chanceler dos anos Lula defendia que só o diálogo garantiria posição de destaque em momentos de crise -alega agora que foi o petista quem "salvou" a prisioneira Sakineh do apedrejamento.
Já seus críticos viram no relacionamento com a teocracia iraniana mero pretexto para dar vazão a um antiamericanismo pueril. O isolamento do país no episódio em que buscou um acordo sobre o programa nuclear de Teerã é visto como prova do fracasso de Amorim.
Já no fim do ano passado, em uma entrevista ao "Washington Post", Dilma emitiu sinais de mudança quando criticou a abstenção do Brasil numa votação semelhante condenando o desrespeito aos direitos humanos no Irã.
Em falas subsequentes, buscou ampliar o escopo, como que para satisfazer a base política à esquerda que a apoia e a tradição isonômica do Itamaraty, lembrando que os EUA também têm suas culpas a purgar na área.
O voto contrário agora denota uma ruptura com o método de Amorim, que ainda ontem criticava a decisão apoiada em Genebra em entrevista nesta Folha.
Mas estamos falando de um item de política externa. Não é possível atestar uma guinada geral na orientação. As posições titubeantes do Brasil em relação aos seus antigos amigos ditadores do mundo árabe, durante a crise que varre o Oriente Médio, são prova disso.
Mesmo a abstenção no voto que autorizou a guerra contra Gaddafi no Conselho de Segurança, que seria justificável por mais de um motivo, acabou entrando em choque com declarações posteriores do chanceler Patriota.
Isso para não falar de outros pontos, como o apoio ao regime comunista de Cuba, que tem tantos problemas de direitos humanos quanto o Irã, ou mais.


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