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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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EUA esperam pragmatismo à Lula

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os EUA esperam que o mesmo "pragmatismo de sobrevivência" em vigor no Brasil contamine Néstor Kirchner, que assume hoje a Presidência da Argentina.
Na visão americana, a Argentina apenas parece estar muito melhor do que já esteve. O fato é que o país continua em moratória, foi banido do mercado internacional e vem apresentando uma recuperação ainda muito lenta.
Na visão do Departamento de Estado americano, se quiser sobreviver dentro das regras democráticas, Kirchner terá não apenas de abandonar a retórica populista como de reatar um diálogo sério com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Os EUA estão dispostos a ajudar. Interessa aos americanos que a Argentina volte à estabilidade democrática depois do turbilhão político dos dois últimos anos. Anteontem, o presidente George W. Bush telefonou para Kirchner. Além de felicitá-lo, fez também um convite para que o argentino visite a Casa Branca após a posse.
Na visão de especialistas ouvidos pela Folha, Kirchner deveria aproveitar a chance.
""Não há muita gente interessada na Argentina. Uma estratégia de confronto agora, principalmente com o FMI, será um tiro no pé", diz Miguel Diaz, diretor para América do Sul e Mercosul do Centro Internacional de Estudos Estratégicos de Washington.
Em setembro, termina o atual acordo da Argentina com o Fundo, e o país, em tese, terá de fazer um desembolso de US$ 3,2 bilhões. Se o acordo for renovado, a dívida poderá ser rolada.
Frederick Jasperson, diretor para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais, afirma que o fundamental é que a Argentina reinicie imediatamente o processo de reformas para ""ganhar confiança e sustentar a atual fase de crescimento", considerada ainda muito frágil.
A mesma demanda foi feita nesta semana pelo próprio FMI. Segundo o seu porta-voz, Thomas Dawson, ""há muitas questões estruturais a serem revolvidas" na Argentina. Embora o país venha projetando uma taxa de crescimento de 4% neste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) caiu mais de 22% desde 1998.
A tendência de valorização do peso sobre o dólar também é vista como artificial, já que a Argentina não está pagando seus compromissos em dólar com o exterior.
A aproximação entre Kirchner e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem duas leituras para os americanos. A negativa é que é mais um obstáculo nos planos dos EUA para finalizar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) no prazo -até janeiro de 2005. A positiva, que prevalece, é que Lula tem sido considerado um exemplo na condução econômica, e o Brasil, na continuação do processo democrático.
A aposta dos EUA é que Kirchner siga o mesmo caminho e reconstrua a política argentina.
Nesse sentido, a derrota eleitoral do ex-presidente Carlos Menem, cujo governo chegou a confessar no passado ""relações carnais" com os EUA, não foi mal recebida. Na última campanha, além da fama de corrupto, os americanos agregaram a Menem a pecha de ""antiquado".

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