São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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"Vladivideos" exibem corrupção real na TV

THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Esqueça "Terra Nostra", o drama de Mateo e Giuliana exibido no horário nobre. A novela de maior audiência no Peru tem personagens reais e envolve dinheiro, assassinato e muita intriga política. São os "vladivideos", as fitas de conversas do antigo braço-direito do ex-presidente Alberto Fujimori, Vladimiro Montesinos, com empresários, políticos e militares.
A queda de Fujimori depois de dez anos de governo autoritário (1990-2000) foi detonada por um vladivideo em setembro do ano passado. As imagens mostravam Montesinos subornando um congressista da oposição para que apoiasse Fujimori.
No início do mês, a TV peruana exibiu quatro novos vladivideos. Dois, de dezembro de 1998, mostravam o antigo chefe do serviço secreto peruano assegurando à empresa chilena Luchetti a vitória em uma ação judicial contra a Prefeitura de Lima.
No vídeo, o presidente da Luchetti, Andrónico Luksic, defende a "destruição pública" do prefeito de Lima, Alberto Andrade. Ao que Montesinos responde, "estamos trabalhando nisso".
Meses depois da conversa, a empresa obteve na Justiça licença para construir uma fábrica de farinha em um área de proteção ambiental. Após a divulgação do vídeo, a Justiça peruana informou que poderá rever a decisão.
"Os vladivideos são uma aula de corrupção. Lógico que a população sempre soube da existência de corrupção no governo, mas nunca assistiu pela TV como o poder muda suas regras para favorecer um grupo", disse o historiador Nelson Manrique.
Existem mais de mil vladivideos (muitos repetidos), quase todos gravados no escritório de Montesinos, na sede do serviço de inteligência peruano. Até agora, foram divulgados mais de 300.
Os vídeos foram gravados pelo próprio serviço secreto, mas não se sabe ao certo como as primeiras fitas chegaram à imprensa. A versão mais aceita indica que os vídeos foram roubados por militares da Marinha prejudicados por Montesinos.
Os vídeos são as maiores provas da corrupção e violação de direitos humanos no governo Fujimori. Eles já demonstraram que Fujimori tinha conhecimento da ação do grupo paramilitar Colina, responsável pelo desaparecimento de milhares de opositores ao seu governo.
Em um deles, o ex-presidente elogia a ação dos paramilitares. Em outro, Montesinos assegura a oficiais do Exército que a Justiça não irá investigar as operações contra a oposição.
"Os peruanos têm o direito de conhecer esses vídeos, por mais repugnantes que eles pareçam. Eles fazem parte de uma história que não pode terminar impune", disse o deputado Manuel Masías, da comissão de investigação do Congresso.



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