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"Vladivideos" exibem corrupção real na TV
THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Esqueça "Terra Nostra", o drama de Mateo e Giuliana exibido
no horário nobre. A novela de
maior audiência no Peru tem personagens reais e envolve dinheiro,
assassinato e muita intriga política. São os "vladivideos", as fitas de
conversas do antigo braço-direito
do ex-presidente Alberto Fujimori, Vladimiro Montesinos, com
empresários, políticos e militares.
A queda de Fujimori depois de
dez anos de governo autoritário
(1990-2000) foi detonada por um
vladivideo em setembro do ano
passado. As imagens mostravam
Montesinos subornando um congressista da oposição para que
apoiasse Fujimori.
No início do mês, a TV peruana
exibiu quatro novos vladivideos.
Dois, de dezembro de 1998, mostravam o antigo chefe do serviço
secreto peruano assegurando à
empresa chilena Luchetti a vitória
em uma ação judicial contra a
Prefeitura de Lima.
No vídeo, o presidente da Luchetti, Andrónico Luksic, defende
a "destruição pública" do prefeito
de Lima, Alberto Andrade. Ao
que Montesinos responde, "estamos trabalhando nisso".
Meses depois da conversa, a
empresa obteve na Justiça licença
para construir uma fábrica de farinha em um área de proteção
ambiental. Após a divulgação do
vídeo, a Justiça peruana informou
que poderá rever a decisão.
"Os vladivideos são uma aula de
corrupção. Lógico que a população sempre soube da existência de
corrupção no governo, mas nunca assistiu pela TV como o poder
muda suas regras para favorecer
um grupo", disse o historiador
Nelson Manrique.
Existem mais de mil vladivideos
(muitos repetidos), quase todos
gravados no escritório de Montesinos, na sede do serviço de inteligência peruano. Até agora, foram
divulgados mais de 300.
Os vídeos foram gravados pelo
próprio serviço secreto, mas não
se sabe ao certo como as primeiras fitas chegaram à imprensa. A
versão mais aceita indica que os
vídeos foram roubados por militares da Marinha prejudicados
por Montesinos.
Os vídeos são as maiores provas
da corrupção e violação de direitos humanos no governo Fujimori. Eles já demonstraram que Fujimori tinha conhecimento da ação
do grupo paramilitar Colina, responsável pelo desaparecimento
de milhares de opositores ao seu
governo.
Em um deles, o ex-presidente
elogia a ação dos paramilitares.
Em outro, Montesinos assegura a
oficiais do Exército que a Justiça
não irá investigar as operações
contra a oposição.
"Os peruanos têm o direito de
conhecer esses vídeos, por mais
repugnantes que eles pareçam.
Eles fazem parte de uma história
que não pode terminar impune",
disse o deputado Manuel Masías,
da comissão de investigação do
Congresso.
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