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Liberal na economia e conservador nos costumes, Calderón promete continuidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ser uma das figuras
mais importantes do partido do
governo, Felipe Calderón ficou
apenas 15 meses no gabinete do
presidente Vicente Fox. Sete
como presidente do Banco Nacional de Obras e oito como Ministro da Energia. Até o ano
passado, era desconhecido pela
maioria dos mexicanos.
Seu magro currículo na administração pública contrasta
com sua precoce carreira de
destaque no conservador Partido da Ação Nacional (PAN). Filho de um dos fundadores do
partido, foi deputado estadual
aos 26, federal aos 29 e presidiu
o partido aos 33 anos, quando o
PAN virou grande força nacional - antes de chegar ao poder
em 2000 com Fox.
Ficou pouco no governo porque não quis esperar a bênção
de Fox -que tinha outro sucessor na cabeça, seu ministro
Santiago Creel. Ao anunciar
sua disposição de ser o candidato, brigou com Fox e renunciou
ao cargo. Hoje está reconciliado
com o presidente.
Com mestrado em Harvard,
Calderón representa a parte do
México que mais ganhou com o
Nafta, o bloco comercial que o
país mantém com EUA e Canadá. Como deputado, participou
da comissão parlamentar que
negociou o tratado de livre comércio. Seu eleitorado é maior
na classe média, na elite e no
empresariado. Em cidades como Monterrey, Guadalajara e
no mais abastado norte do país.
Apesar de criticar o "populismo" de seu principal adversário, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, Calderón
tem prometido criar milhões
de empregos em seu governo.
"Meu trabalho será o de ter certeza que não faltará trabalho
aos mexicanos", promete.
Em uma das poucas coincidências que tem com o adversário, ele acha que o drama da
imigração mexicana para os
EUA só diminuirá com mais
"empregos decentes". Apesar
da baixa taxa de desemprego
(3,5%), a taxa de subempregos e
dos salários baixos tornam irresistível o sonho de cruzar a
fronteira do norte.
Sua ascensão só começou em
abril. Até então, sua campanha
patinava. Em fevereiro, recebeu o apoio do ex-premiê espanhol José María Aznar, personagem impopular no México
por sua amizade com o presidente americano George W.
Bush e pela defesa e o apoio à
Guerra do Iraque.
Antiquado
No mesmo mês, em um programa de televisão de grande
audiência, Calderón afirmou
ser contrário a qualquer tipo de
aborto, ao casamento gay, à eutanásia e à pílula do dia seguinte ("é abortiva", disse). A pílula
é distribuída gratuitamente
nos hospitais públicos pelo governo de seu próprio partido.
Como sinal de que o México
carola de antigamente está em
transformação, ele caiu nas
pesquisas depois da entrevista,
e principalmente entre o eleitorado jovem, que o vê como
um homem antiquado.
Foi quando sua campanha
mudou radicalmente. Passou a
investir numa imagem menos
formal. Lançou na última semana sua biografia chamada "O
Filho Desobediente".
"Calderón tem uma formação intelectual bem mais sólida
que a de Fox ou que a dos outros candidatos", diz o escritor
e comentarista político Héctor
Aguilar Camín. "É um liberal
na economia, mas é de partido
católico muito conservador."
Com carisma limitado, fez
poucos comícios para multidões e investiu mais tempo na
tevê. Boa parte da propaganda
focou os ataques contra López
Obrador e o "perigo" que ele representaria para o México,
comparando-o a Chávez. A
campanha do medo contra a esperança funcionou até certo
ponto, ao fazer o conservador
empatar com o esquerdista.
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