São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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OPINIÃO

Números provam que decisão do bloco é concessão à xenofobia

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Os números são suficientemente eloquentes para permitir afirmar, sem medo de errar, que a possibilidade de reintroduzir fronteiras internas entre os 25 países-membros do tratado de Schengen pode prejudicar 404 milhões de pessoas (o número de habitantes desses países) para dar uma satisfação à minoria -crescente e ruidosa, mas ainda minoria- que vota pelos partidos de extrema direita, xenófobos e, acima de tudo, islamófobos.
Os números: 850 mil pessoas fugiram da guerra na Líbia, até o fim do mês de maio.
Delas, 427 mil encontraram abrigo na vizinha Tunísia e outras 300 mil no igualmente vizinho Egito.
São dois países infinitamente mais pobres do que o mais pobre dos 28 membros de Schengen, mas nem por isso fecharam suas fronteiras.
Já a Itália, que recebeu fração dos fugitivos (39 mil), foi a pioneira e a mais estridente defensora da tranca nas fronteiras, coadjuvada pela França, que seria o destino natural dos tunisianos que desembarcavam antes na Itália por facilidade geográfica.
Afinal, a França foi a potência colonial da Tunísia (e a Itália, da Líbia), o que fez com que abrigasse uma numerosa comunidade norte-africana, não apenas tunisiana. As primeiras levas foram bem recebidas, porque aceitavam tarefas pesadas que os franceses já não estavam dispostos a exercer e, agora, servem de colchão social para as novas gerações.
O que Itália e França têm em comum, além de governos conservadores (um rótulo cada vez menos útil em um mundo que se torna crescentemente conservador)?
O fato de que seus líderes estão sob pressão da extrema direita, que vê na imigração a fonte de quase todos os problemas, especialmente a criminalidade.
É uma situação que vale para quase toda a Europa, de que dá prova a recente ascensão dos "Autênticos Finlandeses" ao primeiro plano da política local, fenômeno inédito. O nome do partido por si só indica que os "outros" não pertencem genuinamente à Finlândia.
Bem feitas as contas, torna-se natural que a Europa decida liberar o bloqueio de fronteiras, ainda que a permissão só valha para situações excepcionais.
Inverte-se a lógica do processo, como aponta Mauricio Valiente, coordenador jurídico da Comissão Espanhola de Ajuda aos Refugiados: "Os que fogem por temor fundado à perseguição têm que ter ao menos a oportunidade de reclamar proteção", em vez de serem tratados como agentes de uma situação excepcional que lhes fecha as portas do suposto paraíso.


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