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Democracia ou Autoritarismo?
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente da Venezuela, coronel Hugo Chávez Frías, joga hoje a grande cartada de seu mandato, na forma de eleição para uma
Assembléia Constituinte de 131
membros.
Chávez transformou a Constituinte na pedra de toque de seu
projeto de refundar a República
venezuelana.
O objetivo declarado da Constituinte é o de ampliar os poderes
do Executivo, criar o direito de
reeleição do presidente, dissolver
o Congresso e o Supremo Tribunal de Justiça - ou seja, de fato refundar as instituições.
O eleitorado venezuelano aprovou, com grande folga, a convocação da Constituinte.
Aprovação de resto lógica, como diz Luis Luengo, professor da
Universidade Católica Andrés Bello. "Se as organizações mais desprestigiadas aos olhos do público
são o Congresso e os partidos políticos, e justamente contra eles o
presidente aponta suas baterias,
basta somar dois e dois que dá
quatro", afirma Luengo.
É importante notar que, para as
eleições de hoje, os candidatos se
apresentam individualmente, e
não em representação dos partidos políticos.
O problema começa na passagem da teoria à prática: congelar
uma instituição desprestigiada
como o Congresso e atropelar os
partidos políticos traz o risco de
"criar uma grave insegurança institucional", como diz o constitucionalista Gerardo Fernández.
De fato, se for mesmo dissolvido o Congresso, a Constituinte ficará com a responsabilidade de,
ao mesmo tempo, elaborar a nova
Constituição e assumir os trabalhos legislativos ordinários do
corpo a ser dissolvido, sem contar
a tarefa judicial, se também a Corte Suprema for extinta.
Nesse vácuo institucional, a instituição da Presidência ganhará
poderes extraordinários.
O segundo problema virá dos
resultados eleitorais. Se os partidários de Chávez tiverem maioria, a Constituinte tende a ser um
mero apêndice do Executivo.
Mas, se os adversários de Chávez forem maioria, cria-se fatalmente um confronto de poderes
que só tenderá a aumentar a já
forte militarização do Executivo
(leia texto à pág 1-16).
O vazio institucional previsível é
incompatível com a necessidade
de medidas econômicas para reativar um país prostrado por anos
de decadência. Até o diretor do
Banco Central venezuelano, Domingo Maza Zavala, diz que não
dá para esperar a promulgação da
nova Constituição para tomar
medidas de reativação.
Chávez até já anunciou um programa de investimentos públicos
de US$ 1 bilhão, como forma de
estimular uma economia que, este ano, deve registrar uma contração de entre 3% e 4%, nos cálculos
do ministro de Finanças, José Alejandro Rojas.
As entidades empresariais reagiram negativamente ao anúncio
do plano, por considerá-lo inflacionário, ao aumentar os gastos
de um governo com déficit já bastante elevado.
Para a maioria da população, o
importante é que a Constituinte
aponte caminhos para reverter a
contínua queda no poder de compra. Só nos primeiros seis meses
deste ano, a renda real (descontada a inflação) caiu 3,85%, mas os
segmentos mais pobres (classes D
e E) sofreram retrocessos ainda
maiores, acima de 5%.
Se conseguir reverter o quadro,
o autoritarismo de Chávez tende a
ganhar respaldo popular. Na hipótese inversa, os riscos do vazio
institucional serão exponenciais.
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