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Mea-culpa aumenta crise em Israel
Chefe militar admite falhas na guerra contra o Hizbollah, enquanto o governo sofre onda de críticas
Reservistas pedem a cabeça do primeiro-ministro e abertura de investigação em meio a sensação de fracasso após a ofensiva
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM JERUSALÉM
Somente ontem, dez dias depois de declarado o cessar-fogo
e de crescentes críticas à cúpula
militar e ao governo, o comandante do Exército israelense,
Dan Halutz, admitiu erros na
condução da ofensiva contra o
Hizbollah.
Também ontem, o primeiro-ministro Ehud Olmert anunciou a liberação de US$ 2 bilhões para recuperar e desenvolver o norte do país, que foi
atingido por cerca de 4.000 foguetes durante o conflito.
Mas o mea-culpa do general e
as promessas do premiê parecem ter chegado tarde demais.
O final do que é visto em Israel
como a primeira fase da guerra
contra o grupo terrorista Hizbollah mergulhou o país em clima de instabilidade política e,
pior, desconfiança em relação à
mítica capacidade do Exército
de defender o país.
Fim do consenso
O consenso em torno de uma
guerra considerada justa dissipou-se rapidamente em meio à
sensação de confusão e fracasso militar, falta de apoio do governo à população do norte do
país e trocas de acusações.
O cenário ficou mais grave
com a renúncia do ministro da
Justiça, Chaim Ramon, político
próximo de Olmert, depois de
ser acusado de assédio sexual. E
o presidente do país, Moshé
Katsav, figura simbólica, está
sendo acusado de estupro por
uma ex-funcionária.
"A crise é muito profunda. O
governo não vai se sustentar da
maneira como está formado. E
a grande pergunta é se o Exército errou muito, ou se tentou de
tudo e mesmo assim não conseguiu vencer. As pessoas estão
achando que não conseguiu",
diz Alberto Spectorovksy, professor de Ciências Políticas da
Universidade de Tel Aviv.
O premiê tentou conter a crise montando uma comissão independente, apontada pelo ministro da Defesa, Amir Peretz,
para avaliar a condução política
e militar do conflito, que não
atingiu os resultados anunciados pelo governo: os soldados
seqüestrados pelo Hizbollah
não foram libertados e o grupo
xiita continua sendo uma
ameaça na fronteira norte, com
apoio do Irã e agora com perigo
de envolvimento da Síria.
A comissão, formado por ex-militares de alta patente e empresários, não deu certo. Foi
dissolvida depois de duas reuniões e agora é muito provável a
criação de uma investigação
oficial, no Parlamento.
Enquanto o premiê tenta ganhar tempo nos incêndios com
comissões parlamentares, as
chamas parecem fugir do controle nas ruas.
Oficiais da reserva, que formam a coluna vertebral do
Exército, montaram acampamento na frente do gabinete de
Olmert em Jerusalém. A mensagem deles é clara: querem as
cabeças da tríade Olmert-Peretz-Halutz.
"Não temos tempo para comissões. Eles precisam sair, e
não por motivos políticos, mas
sim porque queremos dormir
em paz e segurança", disse Boaz
Turpstein, um dos organizadores do movimento.
Racha
Há um nítido racha entre os
oficiais de baixa patente e a cúpula do Exército. Os reservistas
reclamam de ordens suicidas
recebidas no terreno, da falta
de comida, água e munição no
sul do Líbano, e de informações
de inteligência desatualizadas.
"Temos condições de ganhar
de qualquer inimigo, e do Hizbollah também. Precisamos
apenas trocar o comando", disse Erez Eshel, que também lutou no sul do Líbano. "Perdi
três soldados e alguém precisa
assumir a responsabilidade."
O fato de Dan Halutz ter vendido suas ações no dia em que a
guerra começou não ajuda a curar as diferenças. A venda levantou suspeitas de uso de informação privilegiada - a Bolsa de Tel Aviv caiu 8% nos dois
primeiros dias de combate.
"A cúpula do Exército foi invadida por uma cultura política, de interesses pessoais", diz
Spectorovsky.
O movimento dos reservistas
vem crescendo. Um grupo de
moradores do norte de Israel
aderiu. Para hoje está programada uma passeata conjunta
com famílias de soldados mortos no Líbano.
O movimento tem apoio de
Motti Ashkenazi, figura emblemática na histórica política israelense. Ele liderou o movimento contra o governo em
1973, depois da Guerra do Yom
Kipur, quando a sensação de
derrota também era grande.
Seus protestos provocaram a
abertura de uma comissão parlamentar que culminou na queda do governo de Golda Meir.
Spectorovksky acha que os
atos populares de hoje em dia
não têm a mesma força dos de
quatro décadas atrás. Também
não está seguro da queda de Olmert, mas acha que o governo
terá de ser ampliado. "Atualmente, é a única alternativa para Olmert", diz o professor.
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