São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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ÁSIA

Jornalista chinês é acusado de revelar "segredo de Estado" ao jornal norte-americano, que se diz "muito preocupado"

China detém repórter a serviço do "NY Times"

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O jornalista chinês Zhao Yan, que trabalha como repórter no escritório do "New York Times" em Pequim, foi preso pela polícia local sob a acusação de revelar segredos de Estado a estrangeiros, crime que pode ser punido com prisão perpétua.
Até ontem, Zhao estava incomunicável e mesmo seu advogado, Mo Shaoping, não tinha certeza sobre qual fato provocou a detenção.
Uma das hipóteses é a publicação de reportagem pelo "Times", em 7 de setembro, segundo a qual o ex-presidente Jiang Zemin iria renunciar ao posto de comandante militar do país, o que de fato ocorreu.
"Nós podemos afirmar de maneira categórica que o sr. Zhao não revelou nenhum segredo de Estado a nosso jornal", declarou Susan Chira, editora de assuntos internacionais.
Ela acrescentou que Zhao não escrevia reportagens para o jornal. A maioria dos jornais estrangeiros na China contrata pessoas para trabalhar como intérpretes ou realizar pesquisas de apoio às reportagens, caso de Zhao.
Antes de começar a trabalhar no "Times", há quatro meses, o jornalista escrevia para a a publicação "China Reform", onde se notabilizou por posições críticas ao governo. Zhao também passou três anos na prisão por integrar o grupo que tentou criar um partido de oposição.

Intervenção da Casa Branca
O advogado Mo Shaoping disse à Folha que o caso ainda está na fase de investigação pela polícia, que vai determinar se a acusação de revelar segredo de Estado tem fundamento ou não. Só depois disso, Mo terá autorização para falar com seu cliente.
Segundo reportagem de ontem do "Times", o editor-chefe do jornal, Bill Keller, pediu intervenção da Casa Branca no caso e entrou em contato com o governo chinês. "Nós estamos muito, muito preocupados", disse Chira.
O jornalista foi preso no dia 17 de setembro e sua família só foi notificada no dia 21. A detenção ocorreu no segundo dos quatro dias de reunião do Comitê Central do Partido Comunista que consolidou a transição de poder iniciada em novembro de 2002, quando Hu Jintao substituiu Jiang Zemin na Secretaria Geral do partido. O processo continuou em março de 2003, com a sucessão de Jiang por Hu na Presidência da China. O último passo foi a transferência do comando militar, no domingo.


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