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NAZISMO
Autor de filme sobre os últimos 12 dias do ditador afirma que alemães ainda não confrontam o seu passado como deveriam
Hitler monstro deturpa história, diz diretor
JOSÉ COMAS
DO "EL PAÍS", EM BERLIM
O diretor Oliver Hirschbiegel
recebeu o corresponde de "El
País" em uma sala do lendário
Hotel Adlon, ao lado do portão de
Brandemburgo, e a uns dois quilômetros de distância do ponto
onde se localizava o bunker de
Adolf Hitler (1889-1945), o cenário para a ação de seu filme "Der
Untergang" ["O Colapso", que
ainda não estreou no Brasil].
O filme, que retrata os últimos
12 dias de vida do ditador nazista,
acaba de ser apontado pela Alemanha para concorrer a uma indicação ao Oscar de melhor filme
estrangeiro de 2004.
Hirschbiegel expressa desacordo sobre o modo pelo qual os alemães confrontaram seu passado
até agora e sobre a visão oferecida
a respeito de Hitler e do nazismo.
Questionado quanto a um possível efeito bumerangue para o
seu filme, o diretor reflete: "O efeito bumerangue na verdade foi
causado por esse hábito de recorrer a clichês na hora de confrontar
a história. Não basta que construamos monumentos e admitamos ter assassinado judeus e afirmemos que o Terceiro Reich não
pode se repetir e que foi a maior
barbaridade da História, sem que
nunca nos perguntemos de que
maneira ele se tornou possível."
Hirschbiegel afirma que "o povo está farto de clichês. Creio que
com esse filme demos um primeiro passo na direção de uma nova
abordagem. Acredito que isso
servirá para despertar os alemães". "A reação da audiência ["O
Colapso" já foi visto por 750 mil
espectadores desde que estreou,
no dia 16, na Alemanha] me demonstra que o filme funciona. Teria sido muito mais fácil agir como tem sido a norma. Mas, se
queremos abordar o problema, é
preciso que compreendamos que
os homens da SS, quando lançavam crianças aos pântanos para
que morressem de maneira atroz,
sabiam o que faziam. Essas pessoas foram manipuladas até o
ponto em que não encaravam
suas vítimas como humanos, mas
como criaturas inferiores."
Segundo Hirschbiegel, "o pior
erro que podemos cometer seria
apresentar Hitler não como ser
humano, mas como monstro, como fenômeno saído não se sabe
de onde, como se ele não tivesse
existido na realidade. Não estamos fazendo justiça para com as
vítimas se dizemos que fomos forçados a agir como fizemos".
"Só faremos justiça a elas quando os alemães falarem sem rodeios e tentarem obter todas as
respostas. O sangue das pessoas
responsáveis por aquilo corre em
nossas veias. Podemos tentar
ocultar essa verdade, mas isso não
nos levaria a lugar algum. É claro
que é um processo doloroso, que
caminhamos num campo minado e que muitos alemães têm medo, mas somos um país antigo, civilizado", diz Hirschbiegel.
"Creio que hoje, nossa tarefa seja fazer o que estamos fazendo, especialmente nós, que não vivemos nada daquilo. Não compreendo como, depois essa maravilhosa simbiose entre judeus e
alemães, por tanto tempo verdadeiramente viva e reciprocamente
inspiradora, geradora da maior
época de nossa história, pudemos
permitir que aquilo acontecesse."
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