São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Marcha que partiu da Casa Branca sem Bush une pacifistas a grupo antiglobalização; Europa também protesta

Milhares nos EUA pedem o fim da guerra

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Em frente à Casa Branca, milhares de pessoas ouvem o reggae sendo interrompido por uma oração em árabe saindo dos enormes alto-falantes instalados para o primeiro protesto permitido no local desde os atentados de 11 de Setembro. Segundos depois, uma voz ao microfone pede: "Podemos voltar ao Bob Marley, por favor?", e a música retorna. Esse era o clima do protesto contra a Guerra no Iraque iniciado na manhã de ontem em Washington, uma mistura de críticas à chamada inabilidade do presidente George W. Bush, com a festa e a alegria de enfim poder dizer não ao que consideram errado.
O presidente, porém, não estava em Washington ontem.
Previsões iniciais de público indicavam que a marca de 100 mil pessoas esperada pelos organizadores foi superada. Após algumas horas de concentração em frente à Casa Branca, os manifestantes fizeram sua marcha, sem poder se aproximar do Capitólio, onde funciona o Congresso, cantando as palavras de ordem: "Traga as tropas de volta para casa agora" e o tradicional "O povo unido jamais será vencido", com versões em inglês e espanhol.
Em sua cadeira de rodas, Jerry Lamb, 58, explica que dirigiu duas horas de Rehoboth Beach, em Delaware, para protestar contra a morte de jovens norte-americanos numa guerra sem sentido, na sua avaliação. "Eles vão se tornar uma teocracia islâmica, maltratar as mulheres e nos deixar de fora. Nunca serão nossos aliados. Nossas crianças estão morrendo por nada. Ou alguém está controlando o presidente ou ele é simplesmente estúpido."
Manifestantes também ocuparam ruas na Europa ontem para pedir o fim da guerra. Em Londres, cerca de 10 mil, segundo a polícia, e 100 mil, na versão dos organizadores.
"Precisamos do movimento das pessoas para terminar esta guerra", disse Cindy Shehan, notabilizada depois de acampar em frente ao rancho de Bush em Crawford, no Texas, durante as férias de verão do presidente.

Oposição conservadora
Os apoiadores de Bush também estavam representados na marcha. Isolado pela polícia, um pequeno grupo usava megafones para dizer que os manifestantes estavam fazendo o jogo dos terroristas. "Vim hoje aqui porque estou cheio de gente como essa me chamando de matador de bebês [baby killer] quando sou eu que estou salvando a vida deles [dos americanos]", disse Bob Trump, veterano da guerra do Iraque segundos após mostrar a prótese de sua perna, perdida em combate, aos que se opunham à invasão do país.

Memorabilia
Organizadores e protestantes não improvisaram para criar camisetas, pôsteres, cartazes, faixas, buttons e toda sorte de memorabilia sobre o protesto. "Quantas vidas por galão?", "Sangue, vidas e sacrifício por nada", "Presidente de destruição em massa" foram alguns dos cartazes vistos pela reportagem na manhã de ontem.
Por todo o lado, havia mistura de tipos, grupos, organizações. De árabes pedindo a libertação da Palestina a punks alertando para manterem distância. De hippies sentados em círculo a indianos batendo tambores. De famílias inteiras passeando a grupos de turistas japoneses tirando fotos.


Com agências internacionais.


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