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RUGIDO PARAGUAIO
Assessor de Lula critica possível presença dos EUA, mas diz que é preciso fazer mais pelo Paraguai no Mercosul
Militarização é "péssima idéia", diz Garcia
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro prefere que
os problemas de segurança da
América do Sul sejam resolvidos
internamente, sem interferências
externas, disseram o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o chanceler Celso
Amorim. "Acho péssima a idéia
de militarização da América do
Sul, porque sabemos como começam esses processos, mas não como terminam", disse Garcia à Folha, referindo-se não apenas ao
Paraguai, mas a toda a região.
Ele disse que o governo estuda
formas de reduzir as insatisfações
dos parceiros menores do Mercosul, mas admitiu que é preciso fazer mais para manter a coesão do
bloco. "Sem dúvida teremos de ficar mais atentos a essas coisas, sobretudo se achamos que o Mercosul é um instrumento fundamental da construção da Comunidade
Sul Americana. Política externa
exige manutenção."
Para Garcia, a permanência do
Paraguai no Mercosul é uma
questão estratégica tanto para o
vizinho quanto para o Brasil, e a
discussão sobre a possível instalação de uma base militar americana no Paraguai em troca de um
acordo comercial foi encerrada
por Amorim, que procurou a
chanceler paraguaia, Leila Rachid, para esclarecer o caso.
"Eu acho que eles [os paraguaios] têm todo o direito de reivindicar uma discussão mais consistente, e temos de fazer essa discussão. Temos de contribuir para
o processo de diversificação da
economia paraguaia e podemos
fazer isso estimulando investimentos da iniciativa privada ou
com crédito do BNDES [Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social]. São esses
dois instrumentos públicos que
temos", afirmou.
Sobre o fato de o vice-presidente paraguaio, Luis Castiglione, ter
sugerido, na semana passada, que
os EUA instalassem uma base militar no país em troca de um acordo comercial, Garcia disse que
"Castiglione é uma autoridade do
governo paraguaio e tem o direito
de manifestar suas opiniões". "O
Brasil não faria isso [oferecer o
país como base militar] porque
não acho que isso ajude na defesa
da região e acrescentaria um elemento externo que não tem se revelado positivo para enfrentamentos de conflitos", afirmou.
"Por que temos de acrescentar
esse elemento em uma região que
sempre teve a capacidade de resolver os seus problemas pela via
política, mesmo tendo contra si
esse tremendo problema social
que temos na região?", questionou o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na semana passada, Amorim já
havia dito que a defesa da região é
um assunto que deve ser tratado
internamente. "A questão da segurança e da defesa na América
do Sul, creio que quanto mais for
observada dentro da América do
Sul, melhor será para nós", disse
Amorim à imprensa quando participava da Assembléia Geral das
Nações Unidas.
Ele também pediu transparência nas negociações entre o Paraguai e os EUA. Dois dias depois o
ministro pediu explicações à
chanceler Rachid, ainda em Nova
York, que negou a existência de
uma base militar americana no
Paraguai ou que o país estava considerando deixar o Mercosul.
"Acho que o Paraguai lucra
mais estrategicamente estando no
Mercosul do que fazendo tratados
de livre comércio que, de certa
maneira, congelam as possibilidade de evolução de uma economia,
que vão ocupar um nicho mínimo, ao passo que o Mercosul tem
uma agenda de integração econômica e política", afirmou.
Economia dependente
Boa parte da economia do Paraguai é baseada na informalidade,
e o país quer compensações dos
sócios maiores do Mercosul, Brasil e Argentina, para desbaratar o
esquema de contrabando e aumentar a proporção dos negócios
formais, o que facilitaria o comércio com o país. No ano passado, o
BNDES aprovou financiamentos
de US$ 300 milhões para a construção da segunda Ponte da Amizade, que liga os dois países, e outras obras.
Na avaliação de diplomatas brasileiros, manifestações periódicas
de insatisfação do Paraguai com o
Mercosul são formas que o país
encontra de pressionar os sócios
maiores a fazer concessões. A situação econômica e social do país
não melhorou com a entrada no
Mercosul. A renda per capita do
Paraguai caiu de US$ 1.500 em
1997 para US$ 960 em 2004.
Segundo esses diplomatas, a sociedade com o Paraguai tem um
caráter mais político do que econômico. Para o Itamaraty, a cláusula democrática do Mercosul
constrange golpes militares no
país, que, assim como outros países da região, possui um ambiente
político instável. É do interesse do
governo brasileiro manter a estabilidade na região para evitar ingerências externas ou o afastamento de investimentos.
Outra preocupação do governo,
que reforça a necessidade de
manter o vizinho sob a órbita de
influência do Brasil, é a extensa
fronteira com o país e os 500 mil
brasileiros que moram no Paraguai, além da divisão da hidrelétrica de Itaipu. Sem portos e indústrias, o Paraguai, por sua vez,
precisa do Mercosul para garantir
mercado para seus produtos, crédito e uma representação mais robusta em foros internacionais.
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