São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008 |
Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / FUGINDO DA RAIA McCain ameaça não ir a debate amanhã
Obama se recusa a adiar evento; republicano suspende sua campanha alegando necessidade de focar crise econômica
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON A 40 dias das eleições e na antevéspera do primeiro debate entre os dois candidatos presidenciais, o republicano John McCain fez aparição não programada em Nova York para dizer que a gravidade da crise econômica por que passa os EUA o levava a suspender temporariamente sua campanha a partir da manhã de hoje. Pediu ainda que seu encontro público com o democrata Barack Obama, amanhã, fosse adiado. Neste momento, o Legislativo discute plano do governo federal que prevê, entre outras ações, a autorização de gastos de até US$ 700 bilhões na compra de títulos de empresas em dificuldade por conta da crise hipotecária. Na noite de ontem, o presidente George W. Bush foi à TV falar sobre o assunto em rede nacional. Pediu que os americanos não se deixem levar pelo pânico, mas disse que se o Congresso não aprovasse o pacote havia o risco de uma "longa e dolorosa recessão". "Estou pedindo ao presidente que convoque uma reunião com as lideranças de ambas as Casas do Congresso, incluindo o senador Obama e eu", disse o senador republicano em Nova York, à tarde. "É hora de ambos os partidos se unirem para resolver o problema." O pedido foi atendido, e o encontro entre os políticos deve acontecer hoje à tarde, na Casa Branca. A campanha de McCain afirmou que, se o plano não for votado pelo Congresso até amanhã, o senador não irá ao debate. Rumores não confirmados davam conta ainda de que o time republicano pediria o adiamento do encontro para 2 de outubro -data do único debate entre os candidatos a vice, Sarah Palin e Joe Biden. Até a conclusão desta edição, no entanto, a comissão organizadora dos debates confirmava o cronograma original. Obama Minutos depois do anúncio de McCain, Barack Obama veio a público dizer que, por iniciativa sua, as duas campanhas haviam concordado pela manhã em soltar um comunicado conjunto reconhecendo o momento delicado pelo qual passa o país. Mas afirmou que só soube da suspensão da campanha do concorrente e de seu pedido de adiamento do debate ao chegar ao hotel e ligar a TV -e disse que discordava dele. "Este é exatamente o momento em que as pessoas precisam ouvir os candidatos", afirmou o democrata de 47 anos, para depois cutucar seu concorrente 25 anos mais velho: "Parte do trabalho de um presidente é lidar com mais de uma coisa ao mesmo tempo. Na minha cabeça, [o debate] é mais importante do que nunca". No comunicado conjunto, McCain e Obama dizem que o plano apresentado por Bush tem "falhas, mas o esforço de proteger o povo americano não pode fracassar". Dizem ainda que "a hora é de se elevar acima da política para o bem do país". "Não podemos arriscar termos uma catástrofe econômica." O anúncio surpreendeu o meio político norte-americano e sugere comportamento errático na campanha do candidato da situação. Logo no início desta fase da crise financeira, McCain veio a público dizer que os fundamentos da economia "eram sólidos". Desde então, voltou atrás e afirmou que a crise era a "pior desde a Segunda Guerra". Na seqüência, declarou que, se fosse presidente, demitiria o presidente da SEC, comissão que regula o mercado nos EUA. Bush defendeu o chefe da instituição. No começo da campanha, o senador veterano havia dito que economia não era o seu forte. O problema para o republicano é que os eleitores parecem ter começado a perceber. Pesquisas de opinião pública recentes citam a crise econômica ao colocar Obama de novo na frente, e o nome do democrata é mais bem avaliado do que o de seu concorrente quando o quesito é tirar o país da crise (leia texto nesta página). As primeiras reações ao anúncio de McCain foram do espanto à crítica. "Não ajudaria neste momento tê-los aqui durante essas negociações", disse o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid. "Parece-me que John McCain está tentando desviar a atenção de sua campanha fracassada." Via porta-voz, a Casa Branca disse que "o anúncio do senador McCain era bem-vindo" e que "apoios bipartidários dos senadores McCain e Obama seriam úteis a levar [a votação] a uma conclusão". "O fascinante da jogada é que posiciona McCain como líder e faz Obama parecer ambicioso" por querer manter o debate, escreveu o estrategista republicano Ron Bonjean, no site Politico. Não é o que crê seu colega de partido e ex-congressista Mickey Edwards: "Quem foi o idiota que inventou esse golpe?". Próximo Texto: Frases Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |