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ONG resgata acadêmicos perseguidos
"Scholars at Risk", nos EUA, oferece trabalho em universidades a intelectuais que fogem de regimes autoritários
Fundada há 10 anos, a entidade reúne cerca de 200 universidades e já recebeu 2.000 pedidos de ajuda de professores
IZABELA MOI
DE SÃO PAULO
A iraniana Fatemeh Haghighatjoo, 42, professora
universitária no Estado de
Massachusetts, nos EUA,
soube por sua mãe, na semana passada, que apesar de viver fora de seu país desde
2005, os jornais locais noticiaram um novo processo do
governo aberto contra ela.
"Ainda não sei qual é a
acusação, minha mãe não
entendeu direito. Mas colocou um exemplar do jornal
no correio. Quando chegar
aqui, vou saber do que se trata", diz em entrevista à Folha
por telefone.
Fatemeh foi parlamentar
entre 2000 e 2004. Sem saída
para continuar na vida política, defendeu sua tese de doutorado em psicologia.
Em setembro de 2005,
quando recebeu uma resposta positiva de continuar sua
pesquisa no MIT (Massachussets Institute of Technology), foi para os EUA.
Já em solo americano, descobriu a Scholars at Risk
(SAR, ou "Pesquisadores em
Perigo") e entrou em contato
com a organização.
"Mais do que apoio logístico e financeiro, a SAR nos
oferece apoio emocional, nos
coloca em contato com pesquisadores do mundo inteiro", conta Fatemeh.
Hoje, ela tem posição permanente no departamento
de estudos da mulher na Universidade de Boston, onde
reside.
REDE DE UNIVERSIDADES
A organização nasceu como parte do programa de direitos humanos na Universidade de Chicago, em 1999.
Em 2004, mudou-se para
sua atual sede, na Universidade de Nova York .
Sua missão primordial é
proteger o trabalho intelectual, preservando a integridade física e mental e a liberdade de expressão de pesquisadores ao redor do mundo.
Mais de 200 universidades
em mais de duas dezenas de
países participam da rede como potenciais hospedeiras
de pesquisadores.
Apesar da grande maioria
(mais da metade) estar localizada nos EUA, Reino Unido,
Austrália, Canadá, Irlanda,
Israel, Holanda e Noruega
têm participação ativa na
ação da rede e no "resgate"
de professores.
Desde sua fundação, a
SAR recebeu cerca de 2.000
pedidos de ajuda.
"Por ano, são cerca de 50
colocações temporárias, variando de três meses a um
ano, que conseguimos efetivar", afirma em entrevista
por telefone à Folha Sinead
O'Gorman, diretora da organização desde 2007
O'Gorman explica que os
pesquisadores passam por
uma classificação de "graus
de ameaça" para que a assistência possa vir da maneira
mais correta.
"Nosso sistema de checagem é rigoroso, porque não
podemos nos transformar
numa agência de colocação
para esses profissionais.
Avaliamos caso a caso", diz.
Segundo ela, os "resgates"
são feitos temporariamente.
"A SAR quer que esses professores possam voltar para
suas universidades e continuar seu trabalho em seus
países", diz.
Um dos fundadores, Irv
Epstein, é professor na Universidade de Illinois Wesleyan, uma das primeiras a filiar-se à rede.
"Hospedamos por um ano
um pesquisador vindo de Camarões e por dois anos um
professor da Etiópia. É claro
que a universidade-hospedeira também acaba oferecendo oportunidades em
áreas onde tem interesse em
desenvolver a pesquisa e o
currículo. Nós estávamos
procurando fortalecer nosso
departamento de estudos
africanos", disse.
PRESO NA CHEGADA
No final de agosto, mais
um alerta foi enviado pela
SAR a todos os participantes
das redes e os que recebem a
newsletter da organização.
Abdul Jalil al Singace, professor da Universidade do
Bahrein, havia sido preso pelas autoridades locais no aeroporto internacional, quando chegava de uma viagem
ao Reino Unido.
Não há acusação formalizada, mas a organização
acredita que pode ter sido em
razão de sua fala sobre a situação dos direitos humanos
em seu país, durante uma
sessão na Câmara dos Lordes
britânica, no mês passado.
Além de professor de engenharia mecânica, Singace
milita também em uma organização de direitos humanos
(Movimento pela Democracia Liberdades Civis).
Singace não é o único. Do
Iraque, uma professora de
psiquiatria, entre muitos outros exemplos, procura
atualmente um outro lugar
para continuar seu trabalho.
Mas não há apenas histórias em suspense.
No relatório da SAR do início de setembro, seis pesquisadores haviam encontrado
sua nova universidade, entre
eles um pesquisador do Camboja na Brown University,
nos EUA.
A Universidade de Toronto, no Canadá, anunciava a
vinda de um professor de
Ruanda para uma posição de
visitante por um ano. E um
professor de direito vindo da
Ásia Central dirigia-se para a
Universidade da Califórnia.
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