São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2011

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Partido islâmico festeja vitória na Tunísia

Resultados extraoficiais dão ao Nahda, ilegal no tempo da ditadura, pelo menos 30% das cadeiras na Constituinte

Sigla, porém, não terá maioria sem se aliar a partidos seculares; analista diz não crer em discurso de moderação

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TÚNIS

A Tunísia só conhecerá hoje os resultados oficiais da votação realizada no domingo, mas o partido islamita Nahda já comemora a vitória na primeira eleição livre produzida pela onda de revoltas populares do mundo árabe.
Acompanhada com enorme atenção como uma espécie de laboratório do que virá na Primavera Árabe, a eleição tunisiana confirma a ascensão do islã político nos países que se livraram de décadas de ditaduras.
"Os primeiros resultados confirmados mostram que o Nahda obteve o primeiro lugar nacionalmente e na maioria dos distritos", disse o chefe de campanha do partido, Abelhamid Jlassi.
De acordo com sua estimativa, baseada em pesquisas de boca de urna, o Nahda obteve no mínimo 30% das cadeiras da Assembleia que irá redigir a nova Constituição da Tunísia. Outros dirigentes estavam ainda mais otimistas, prevendo que o Nahda poderá ter até 50% dos votos.
Mesmo com a maior bancada, porém, grande parte dos analistas estima que os islamitas necessitarão se unir a partidos seculares para ter a maioria na Constituinte.
Os principais candidatos a uma coalizão são os partidos que disputam a segunda colocação, o Ettakatol (centro-esquerda) e o Partido do Congresso para a República (CPR). Durante a campanha, seus líderes não descartaram um acordo com o Nahda.
Primeiro país a derrubar um ditador em protestos populares, dando início à Primavera Árabe em janeiro, a Tunísia compareceu em massa às urnas no domingo, registrando um índice de votação que chegou a 90%.
A grande surpresa ficou por conta do fiasco nas urnas do PDP (Partido Progressista Democrático), o maior antagonista do Nahda na campanha. "O PDP respeita o jogo democrático", disse ontem o partido, que sob a ditadura de Ben Ali fazia parte da oposição legal, mas decorativa.
Num comunicado, o PDP admitiu a derrota, afirmando que "o povo manifestou sua confiança naqueles que considerou merecedores dela".
Mas para alguns dos opositores do Nahda, como o consultor estratégico Cyril Grislain, a admissão de que os islamitas serão a força predominante na Constituinte é um "derrotismo precoce".
Autor de livro recente sobre desafios da Tunísia pós-Ben Ali, ele não crê no discurso moderado do Nahda. "Trinta semanas de retórica não apagam 30 anos de radicalismo", diz em português perfeito, aprendido nos 12 anos em que morou no Rio.
Ilegal no tempo de Ben Ali, que fugiu do país em janeiro, o Nahda emergiu como maior força da campanha tunisiana prometendo um islã moderado, comprometido com pluralismo e democracia.



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