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Um ano depois, campanha de Obrador ameaça rachar PRD
DA REDAÇÃO
"Governo Legítimo do México, boa tarde." Assim atendem
as secretárias no escritório político de Andrés Manuel Lopéz
Obrador na Cidade do México.
Um ano e quatro meses depois de ter perdido a Presidência para o conservador Felipe
Calderón, do Partido de Ação
Nacional (PAN), por uma contestada e desconcertante diferença de apenas 234 mil votos,
o candidato do PRD segue sua
campanha contra o resultado,
que sustenta ter sido fraudado.
A manifestação do último domingo no Zócalo, principal praça da Cidade do México -de
onde partiu o grupo que invadiu a catedral-, era um ato de
Obrador para comemorar "um
ano de governo legítimo", que
tem até gabinete nomeado.
A manifestação não encheu a
praça, como costumava ocorrer. Ainda assim, o apelo do
candidato e de suas viagens
questionadoras do sistema
eleitoral -movimento que, dizem analistas, ajudou a reanimar grupos clandestinos adeptos da luta armada- começam
a se tornar mais um incômodo
do que um trunfo para o PRD.
É cada vez mais clara a cisão
entre a ala radical do partido e a
bancada no Legislativo federal.
A primeira, que apóia o ex-candidato, tem ramificações no
importante governo da capital,
que Obrador já comandou. Já
os deputados, segunda força no
Congresso, fazem alianças pontuais com o governo "espúrio"
de Calderón, como nas reformas fiscal e eleitoral.
Os dois grupos têm candidatos a presidente do PRD, os
"light" com ligeira vantagem. O
pleito, em março, será decisivo
para o futuro da sigla.
"López Obrador não respondeu à altura das circunstâncias", diz o antropólogo Roger
Bartra. "A situação para a esquerda é muito difícil. Tem um
líder com certo carisma que está empenhado em continuar
uma campanha cada vez mais
marginal até dentro da própria
esquerda", continua ele, que
afirma que López Obrador encarnou de vez "um personagem
do realismo fantástico latino-americano" na atual cruzada.
Poder popular e Calderón
Nomeado chanceler do "governo legítimo", o embaixador
aposentado Gustavo Evaristo
explicou à Folha os objetivos
do movimento: "Nosso voto
simplesmente não serve mais,
porque nos roubam. Da próxima vez, vamos armados da organização popular. É o que estamos preparando".
O movimento define-se como de resistência pacífica,
"maior e mais radical que o
PRD", e nega que pretenda tomar o poder. Questionado se
López Obrador se candidatará
em 2012, Evaristo diz: "É uma
possibilidade, se o governo Calderón sobreviver até lá".
Antes disso, porém, haverá
as eleições legislativas de 2009,
e, a julgar por pesquisas recentes, o PRD corre o risco de encolher no Congresso.
Uma pressão é exatamente o
governo de Calderón, que cresceu em aprovação e tenta deixar para trás a "direita que
agradece mais a Deus do que à
cidadania quando ganha as
eleições", em nome de uma
imagem centrista.
Parte dos argumentos perredistas foi integrada ao discurso
do presidente, que normalizou
as relações com Cuba e com a
Venezuela e tem criticado a
"mediocridade" das elites mexicanas, além de atacar pontualmente Washington. (FM)
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