São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Um ano depois, campanha de Obrador ameaça rachar PRD

DA REDAÇÃO

"Governo Legítimo do México, boa tarde." Assim atendem as secretárias no escritório político de Andrés Manuel Lopéz Obrador na Cidade do México.
Um ano e quatro meses depois de ter perdido a Presidência para o conservador Felipe Calderón, do Partido de Ação Nacional (PAN), por uma contestada e desconcertante diferença de apenas 234 mil votos, o candidato do PRD segue sua campanha contra o resultado, que sustenta ter sido fraudado.
A manifestação do último domingo no Zócalo, principal praça da Cidade do México -de onde partiu o grupo que invadiu a catedral-, era um ato de Obrador para comemorar "um ano de governo legítimo", que tem até gabinete nomeado.
A manifestação não encheu a praça, como costumava ocorrer. Ainda assim, o apelo do candidato e de suas viagens questionadoras do sistema eleitoral -movimento que, dizem analistas, ajudou a reanimar grupos clandestinos adeptos da luta armada- começam a se tornar mais um incômodo do que um trunfo para o PRD.
É cada vez mais clara a cisão entre a ala radical do partido e a bancada no Legislativo federal. A primeira, que apóia o ex-candidato, tem ramificações no importante governo da capital, que Obrador já comandou. Já os deputados, segunda força no Congresso, fazem alianças pontuais com o governo "espúrio" de Calderón, como nas reformas fiscal e eleitoral.
Os dois grupos têm candidatos a presidente do PRD, os "light" com ligeira vantagem. O pleito, em março, será decisivo para o futuro da sigla.
"López Obrador não respondeu à altura das circunstâncias", diz o antropólogo Roger Bartra. "A situação para a esquerda é muito difícil. Tem um líder com certo carisma que está empenhado em continuar uma campanha cada vez mais marginal até dentro da própria esquerda", continua ele, que afirma que López Obrador encarnou de vez "um personagem do realismo fantástico latino-americano" na atual cruzada.

Poder popular e Calderón
Nomeado chanceler do "governo legítimo", o embaixador aposentado Gustavo Evaristo explicou à Folha os objetivos do movimento: "Nosso voto simplesmente não serve mais, porque nos roubam. Da próxima vez, vamos armados da organização popular. É o que estamos preparando".
O movimento define-se como de resistência pacífica, "maior e mais radical que o PRD", e nega que pretenda tomar o poder. Questionado se López Obrador se candidatará em 2012, Evaristo diz: "É uma possibilidade, se o governo Calderón sobreviver até lá".
Antes disso, porém, haverá as eleições legislativas de 2009, e, a julgar por pesquisas recentes, o PRD corre o risco de encolher no Congresso.
Uma pressão é exatamente o governo de Calderón, que cresceu em aprovação e tenta deixar para trás a "direita que agradece mais a Deus do que à cidadania quando ganha as eleições", em nome de uma imagem centrista.
Parte dos argumentos perredistas foi integrada ao discurso do presidente, que normalizou as relações com Cuba e com a Venezuela e tem criticado a "mediocridade" das elites mexicanas, além de atacar pontualmente Washington. (FM)

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