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"Deixei tudo para trás", diz morador
Habitantes de ilha bombardeada pelos norte-coreanos relatam medo e dizem que não querem mais retornar
Centenas de pessoas de Yeonpyeong, objeto de disputa entre as duas Coreias, abandonam a ilhota desde anteontem
JACK KIM
DA REUTERS, EM
INCHEON (COREIA DO SUL)
Apavorados e com frio,
centenas de moradores da
ilha sul-coreana atacada pela Coreia do Norte fugiram
ontem para o continente,
muitos deles jurando nunca
mais retornar a suas casas.
"Não vou voltar", disse
Kim Ji-kwon, 53, que trabalhava em sua roça na ilha de
Yeongpyeong quando os disparos norte-coreanos tiveram início.
Kim contou que, quando
olhou para cima, viu colunas
de fumaça saindo do bairro
onde vivia, a poucos quilômetros. "Deixei para trás tudo o que eu tinha."
Pequena ilha situada 120
km a oeste de Seul, Yeonpyeong tem cerca de 1.600 civis e mil militares. Fica em
águas reivindicadas pela Coreia do Norte, mas habitadas
por sul-coreanos.
Cerca de 340 moradores de
Yeongpyeong, em sua maioria mulheres, crianças e idosos, estavam sendo retirados
ontem por embarcações da
guarda costeira sul-coreana,
depois de passar uma noite
de frio em um abrigo antiaéreo improvisado.
Não houve mais disparos,
mas o fato não consolou Cho
Soon-ae, que chorou ao desembarcar no píer da cidade
portuária de Incheon com a
filha pequena nos braços.
PARECIA GUERRA
"Minha casa queimou até
o chão", ela contou, afastando-se do barco em meio a
pessoas retiradas da ilha.
"Perdemos tudo. Não tenho nem sequer uma roupa
de baixo extra", disse Cho, às
lágrimas. Ela disse que não
tinha para onde ir no continente, exceto um abrigo público improvisado.
Algumas centenas de pessoas também deixaram a ilha
anteontem, mas, como a retirada dos moradores pela
guarda costeira foi voluntária, muitas pessoas optaram
por permanecer.
A Coreia do Norte é visível
desde Yeonpyeong, situada
perto da contestada fronteira
marítima entre os dois países, no mar Amarelo.
"Dá para ver a Coreia do
Norte desde a ilha. Não dá
para ver a Coreia do Sul. Mas
nunca antes nos sentimos inseguros", comentou Byun
Jong-myoung.
"Pretendemos dizer a eles
que devem considerar a possibilidade de se mudarem da
ilha", ele prosseguiu, aludindo à família de seu irmão,
que vive lá.
Para Kim Hoon-yi, que,
com o seu filho de três anos,
estava visitando os seus sogros na ilha quando o ataque
norte-coreano aconteceu, o
pior de tudo foi a dificuldade
em entender o que estava
acontecendo. "Algumas pessoas afirmaram se tratar de
uma guerra", declarou.
Tradução de CLARA ALLAIN
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