São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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"Deixei tudo para trás", diz morador

Habitantes de ilha bombardeada pelos norte-coreanos relatam medo e dizem que não querem mais retornar

Centenas de pessoas de Yeonpyeong, objeto de disputa entre as duas Coreias, abandonam a ilhota desde anteontem

JACK KIM
DA REUTERS, EM
INCHEON (COREIA DO SUL)


Apavorados e com frio, centenas de moradores da ilha sul-coreana atacada pela Coreia do Norte fugiram ontem para o continente, muitos deles jurando nunca mais retornar a suas casas.
"Não vou voltar", disse Kim Ji-kwon, 53, que trabalhava em sua roça na ilha de Yeongpyeong quando os disparos norte-coreanos tiveram início.
Kim contou que, quando olhou para cima, viu colunas de fumaça saindo do bairro onde vivia, a poucos quilômetros. "Deixei para trás tudo o que eu tinha."
Pequena ilha situada 120 km a oeste de Seul, Yeonpyeong tem cerca de 1.600 civis e mil militares. Fica em águas reivindicadas pela Coreia do Norte, mas habitadas por sul-coreanos.
Cerca de 340 moradores de Yeongpyeong, em sua maioria mulheres, crianças e idosos, estavam sendo retirados ontem por embarcações da guarda costeira sul-coreana, depois de passar uma noite de frio em um abrigo antiaéreo improvisado.
Não houve mais disparos, mas o fato não consolou Cho Soon-ae, que chorou ao desembarcar no píer da cidade portuária de Incheon com a filha pequena nos braços.

PARECIA GUERRA
"Minha casa queimou até o chão", ela contou, afastando-se do barco em meio a pessoas retiradas da ilha.
"Perdemos tudo. Não tenho nem sequer uma roupa de baixo extra", disse Cho, às lágrimas. Ela disse que não tinha para onde ir no continente, exceto um abrigo público improvisado.
Algumas centenas de pessoas também deixaram a ilha anteontem, mas, como a retirada dos moradores pela guarda costeira foi voluntária, muitas pessoas optaram por permanecer.
A Coreia do Norte é visível desde Yeonpyeong, situada perto da contestada fronteira marítima entre os dois países, no mar Amarelo.
"Dá para ver a Coreia do Norte desde a ilha. Não dá para ver a Coreia do Sul. Mas nunca antes nos sentimos inseguros", comentou Byun Jong-myoung.
"Pretendemos dizer a eles que devem considerar a possibilidade de se mudarem da ilha", ele prosseguiu, aludindo à família de seu irmão, que vive lá.
Para Kim Hoon-yi, que, com o seu filho de três anos, estava visitando os seus sogros na ilha quando o ataque norte-coreano aconteceu, o pior de tudo foi a dificuldade em entender o que estava acontecendo. "Algumas pessoas afirmaram se tratar de uma guerra", declarou.


Tradução de CLARA ALLAIN


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