São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

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Etiópia ataca Somália para combater forças islâmicas do país

Bombardeios aéreos matam mais de 500 militantes do poder paralelo e dez soldados do governo de transição somali; há risco de invasão de países vizinhos

Mohamed Sheikh Nor/Associated Press
Meninos somalis deixam Baidoa para fugir de combates, que se acirraram com bombardeios


DA REDAÇÃO

Aviões da Etiópia atacaram ontem a Somália, destruindo um centro de recrutamento para militantes islâmicos e reforçando temores de que uma guerra regional comece. Pela primeira vez, a Etiópia reconheceu suas intenções militares contra a Somália.
Forças do governo somali mataram 500 soldados islâmicos, a maioria deles da Eritréia, em dois dias de combate, segundo Abdikarin Farah, embaixador somali na Etiópia. Dez soldados do governo foram mortos, e 13 ficaram feridos, enquanto 280 inimigos foram presos -entre eles, paquistaneses, afegãos e sudaneses.
A ação etíope foi condenada pela União Européia.
De acordo com testemunhas, os aviões bombardearam diversas cidades, enquanto tanques etíopes invadiram o território somali sob controle de forças islâmicas, na costa do país. "Os etíopes estão fazendo tudo voar pelos ares", disse Mohammed Hussein Galgal, um comandante islâmico em Beledweyne, perto da fronteira com a Etiópia. Oficiais etíopes disseram ontem terem perdido a paciência com os líderes islâmicos, que declararam guerra e, segundo eles, almejam transformar a Somália em um campo para recrutar combatentes contrários à Etiópia.
"O que vocês esperam que façamos? Esperar que ataquem nossas cidades?" disse Zemedkun Tekle, porta-voz do Ministério da Informação etíope. Segundo ele, o contra-ataque da Etiópia visa proteger a autonomia e a estabilidade do país.
A Somália tem dois governos adversários: o fraco e internacionalmente reconhecido como governo de transição, sediado em Baidoa, e as forças islâmicas, um movimento popular que controla boa parte do país, inclusive a capital, Mogadishu.
Desde que os islâmicos chegaram ao poder, em junho, a Etiópia está cada vez mais envolvida com a política interna da Somália, na tentativa de proteger o governo de transição do avanço das forças islâmicas.
A disputa entre os dois grupos se acirrou na semana passada. Segundo testemunhas, os soldados islâmicos, adolescentes, não seriam páreo para as forças governamentais, adultas e profissionais. A Etiópia detém a mais poderosa força militar da região, treinada e fundada com ajuda norte-americana.
Oficiais dos EUA apóiam a decisão etíope de enviar soldados à Somália, pois crêem que esta a melhor maneira de deter a expansão do poder islâmico, que os norte-americanos acusam de abrigar terroristas.
Oficiais etíopes vinham negando combater forças na Somália, afirmando que sua atuação estava limitada à presença de alguns militares. Isso, porém, mudou ontem, quando testemunhas afirmaram que aviões etíopes de combate foram vistos cruzando o céu de várias cidades somalis.
Os ataques de ontem não vieram como uma surpresa. A questão agora parece ser se a Etiópia irá até Mogadishu para tentar aniquilar os militantes islâmicos -há o temor de que as ações marquem o início de uma longa insurgência ou forcem uma negociação com o governo de transição.

Envolvimento regional
O que complica a questão é a presença de soldados estrangeiros na Somália e o aumento potencial de uma invasão de países vizinhos. Oficiais estimam que haja milhares de soldados da Eritréia, país arquiinimigo da Somália e que luta do lado islâmico, além de mercenários muçulmanos do Iêmen, Egito, Síria e Líbia, que desejam transformar a Somália no terceiro pólo da jihad, depois do Iraque e do Afeganistão.
A Somália, quase inteiramente muçulmana, e a Etiópia, em boa parte cristã, tiveram confrontos sangrentos durante anos. Ambos se enfrentaram em uma guerra costeira em 1977 e em 1978, quando forças somalis tentaram conquistar uma área de fronteira e acabaram desmoralizadas pelos soldados etíopes. Os colapsos levaram à queda do governo central, em 1991, seguidos por 15 anos de anarquia.


Com "New York Times" e agências internacionais


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