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SOB NOVA DIREÇÃO / CAOS NO AFEGANISTÃO
Karzai perde apoio norte-americano
Antes tido como "queridinho", presidente afegão vem sendo criticado por não combater violência e corrupção
Contrapartida é tom mais
nacionalista de Cabul; ONU
e Hillary atacam falta de
liderança, e governo Obama
contata possíveis sucessores
DO "INDEPENDENT", EM CABUL
A chegada de Barack Obama
à Casa Branca pode levar ao
afastamento do presidente do
Afeganistão, Hamid Karzai,
conforme apurou o "Independent". O apoio internacional a
Karzai, que chegou a ser o "queridinho" do Ocidente, vem diminuindo em meio à violência
crescente, à corrupção endêmica e à liderança fraca no país.
Até recentemente, diplomatas insistiam que não havia alternativas viáveis a Karzai, apesar da intensificação da violência e do crescimento da insurgência do Taleban. Na semana
passada, porém, quatro figuras-chave que se acredita que estejam disputando a liderança
com Karzai chegaram a Washington para se reunir com integrantes do governo Obama.
Fala-se agora de uma chapa
na qual os principais rivais do
presidente concorreriam juntos nas eleições gerais de meados deste ano para unir os diversos grupos étnicos afegãos e
afastar Karzai do controle.
A delegação extraoficial a
Washington foi composta de
três ex-ministros afegãos e um
governador em exercício -Abdullah Abdullah (ex-chanceler), Ashraf Ghani (ex-ministro
das Finanças), Ali Ahmad Jalali
(ex-ministro do Interior) e Gul
Agha Sherzai, atual governador
da Província oriental de Nangahar, onde tropas americanas
têm suas bases.
Quando Obama fez uma visita ao Afeganistão, em julho, teve um encontro com o governador Sherzai em Jalalabad, antes
mesmo de reunir-se com o presidente Karzai em Cabul.
Campo Bastion, na Província
de Helmand, já está se tornando o símbolo da americanização da guerra no sul do país.
Pistas de pouso serão construídas para permitir a chegada
de aviões de guerra, dentro dos
preparativos para o envio de
mais 30 mil soldados americanos [já há hoje 30 mil no país,
dentro e fora da força da Otan,
além de 32 mil outros soldados
estrangeiros sob a aliança militar ocidental].
As tropas britânicas continuarão a ser a força maior em
Helmand, mas terão reforço.
Funcionários do governo
Karzai esperavam que Hillary
Clinton, secretária de Estado,
fosse sua aliada na Casa Branca.
Mas essas esperanças caíram
por terra na semana passada,
quando Hillary, na audiência
de sua confirmação no cargo,
descreveu o Afeganistão como
"narco-Estado" cujo governo
"tem capacidade limitada e é
corroído pela corrupção".
Em outubro, relatórios de inteligência dos EUA citaram Ahmed Wali Karzai, irmão do presidente, como chefe do tráfico
de drogas. Desmentidas categoricamente por Hamid e Ahmed Karzai, as alegações são
disseminadas no Afeganistão,
mas até então as autoridades
ocidentais tinham se negado a
corroborá-las.
Novas iniciativas
As observações de Hillary
coincidiram com críticas contundentes do secretário-geral
da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, segundo o qual o governo é
tão culpado pela instabilidade
quanto são os insurgentes.
O planejamento de novas políticas no país vem sendo feito
há meses pelo Pentágono e o
Departamento de Estado.
Várias iniciativas estão a caminho. Além do reforço de tropas, elas incluem armar grupos
locais para combater o Taleban,
do mesmo modo como milícias
sunitas foram empregadas contra insurgentes pelo general
David Petraeus no Iraque.
Forças americanas, britânicas e da Otan vão passar a exercer um papel muito mais direto
nas operações de combate ao
tráfico de heroína -o Afeganistão fornece 93% da heroína
consumida no mundo.
Em resposta a iniciativas para afastá-lo ou para assegurar
que ele não se candidate à reeleição, Karzai vem polindo suas
credenciais nacionalistas, com
críticas às tropas estrangeiras
por fazerem pouco caso das
baixas afegãs em seus ataques
aéreos e por passar ao largo do
governo -anteontem, um ataque dos EUA matou 15 pessoas,
das quais 9 são civis, diz Cabul.
Karzai é crítico da proposta
do aumento das tropas americanas, que devem levar à intensificação dos combates no país.
Uma presença militar maior da
coalizão liderada pelos EUA
também pode desencadear
uma reação nacionalista afegã.
Um novo candidato apoiado
pelos EUA que seja apresentado para ser eleito pode desacreditar o governo de Cabul mais
ainda, fazendo-o, ainda mais,
ser visto como fantoche das
forças estrangeiras.
Tradução de CLARA ALLAIN
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