São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / CAOS NO AFEGANISTÃO

Karzai perde apoio norte-americano

Antes tido como "queridinho", presidente afegão vem sendo criticado por não combater violência e corrupção

Contrapartida é tom mais nacionalista de Cabul; ONU e Hillary atacam falta de liderança, e governo Obama contata possíveis sucessores

DO "INDEPENDENT", EM CABUL

A chegada de Barack Obama à Casa Branca pode levar ao afastamento do presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, conforme apurou o "Independent". O apoio internacional a Karzai, que chegou a ser o "queridinho" do Ocidente, vem diminuindo em meio à violência crescente, à corrupção endêmica e à liderança fraca no país. Até recentemente, diplomatas insistiam que não havia alternativas viáveis a Karzai, apesar da intensificação da violência e do crescimento da insurgência do Taleban. Na semana passada, porém, quatro figuras-chave que se acredita que estejam disputando a liderança com Karzai chegaram a Washington para se reunir com integrantes do governo Obama. Fala-se agora de uma chapa na qual os principais rivais do presidente concorreriam juntos nas eleições gerais de meados deste ano para unir os diversos grupos étnicos afegãos e afastar Karzai do controle.
A delegação extraoficial a Washington foi composta de três ex-ministros afegãos e um governador em exercício -Abdullah Abdullah (ex-chanceler), Ashraf Ghani (ex-ministro das Finanças), Ali Ahmad Jalali (ex-ministro do Interior) e Gul Agha Sherzai, atual governador da Província oriental de Nangahar, onde tropas americanas têm suas bases.
Quando Obama fez uma visita ao Afeganistão, em julho, teve um encontro com o governador Sherzai em Jalalabad, antes mesmo de reunir-se com o presidente Karzai em Cabul. Campo Bastion, na Província de Helmand, já está se tornando o símbolo da americanização da guerra no sul do país. Pistas de pouso serão construídas para permitir a chegada de aviões de guerra, dentro dos preparativos para o envio de mais 30 mil soldados americanos [já há hoje 30 mil no país, dentro e fora da força da Otan, além de 32 mil outros soldados estrangeiros sob a aliança militar ocidental].
As tropas britânicas continuarão a ser a força maior em Helmand, mas terão reforço. Funcionários do governo Karzai esperavam que Hillary Clinton, secretária de Estado, fosse sua aliada na Casa Branca. Mas essas esperanças caíram por terra na semana passada, quando Hillary, na audiência de sua confirmação no cargo, descreveu o Afeganistão como "narco-Estado" cujo governo "tem capacidade limitada e é corroído pela corrupção".
Em outubro, relatórios de inteligência dos EUA citaram Ahmed Wali Karzai, irmão do presidente, como chefe do tráfico de drogas. Desmentidas categoricamente por Hamid e Ahmed Karzai, as alegações são disseminadas no Afeganistão, mas até então as autoridades ocidentais tinham se negado a corroborá-las.

Novas iniciativas
As observações de Hillary coincidiram com críticas contundentes do secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, segundo o qual o governo é tão culpado pela instabilidade quanto são os insurgentes. O planejamento de novas políticas no país vem sendo feito há meses pelo Pentágono e o Departamento de Estado. Várias iniciativas estão a caminho. Além do reforço de tropas, elas incluem armar grupos locais para combater o Taleban, do mesmo modo como milícias sunitas foram empregadas contra insurgentes pelo general David Petraeus no Iraque. Forças americanas, britânicas e da Otan vão passar a exercer um papel muito mais direto nas operações de combate ao tráfico de heroína -o Afeganistão fornece 93% da heroína consumida no mundo.
Em resposta a iniciativas para afastá-lo ou para assegurar que ele não se candidate à reeleição, Karzai vem polindo suas credenciais nacionalistas, com críticas às tropas estrangeiras por fazerem pouco caso das baixas afegãs em seus ataques aéreos e por passar ao largo do governo -anteontem, um ataque dos EUA matou 15 pessoas, das quais 9 são civis, diz Cabul. Karzai é crítico da proposta do aumento das tropas americanas, que devem levar à intensificação dos combates no país. Uma presença militar maior da coalizão liderada pelos EUA também pode desencadear uma reação nacionalista afegã.
Um novo candidato apoiado pelos EUA que seja apresentado para ser eleito pode desacreditar o governo de Cabul mais ainda, fazendo-o, ainda mais, ser visto como fantoche das forças estrangeiras.

Tradução de CLARA ALLAIN


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