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Em Gaza, população vê Hamas mais forte
Moradores do território afirmam que ofensiva israelense trouxe adeptos à causa palestina e poder político ao grupo radical
Para palestinos, adversário
fracassou em sua meta de
voltar moradores de Gaza
contra facção islâmica e
repeliu simpatia mundial
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL À FAIXA DE GAZA
Os 1.300 mortos, cerca de
5.500 feridos e mais de 4.000
casas destruídas na ofensiva
militar de 22 dias de Israel na
faixa de Gaza representaram a
vitória da causa palestina e do
Hamas e a derrota de Israel
-ao menos na opinião de vítimas dos bombardeios ouvidas
ontem pela Folha.
Se um dos objetivos de Israel
era tentar voltar os palestinos
contra o grupo extremista, desestabilizando-o internamente, a tática de ataque pode ter
saído pela culatra. Dos entrevistados, muitos dos quais perderam parentes e suas casas,
nenhum criticou os extremistas do Hamas, nem mesmo
pessoas ligadas ao rival Fatah.
Para muitos, a destruição e o
grande número de mortes de
civis pôs a opinião pública
mundial ao lado dos palestinos
e fez com que o Hamas passasse a ser tratado como governante legítimo de Gaza -o grupo, que venceu as legislativas
de 2006, não é considerado interlocutor oficial nem por Israel nem pelos EUA, que o classificam como terrorista.
"Israel não conseguiu nada
do que queria e se vingou contra os civis, destruindo tudo. É
só destruição civil. É esse um
dos maiores exércitos do mundo?", indaga Ramadan Mahmoud Ghonin, cuja casa foi
destruída e usada por Israel como base. "Isso é loucura. Minha vizinha foi morta dentro
de casa. Por que atirar em uma
mulher? Não conseguiram matar os guerrilheiros, assassinaram mulheres e crianças."
No segundo andar da moradia no bairro de Betlahia, além
de latas de atum e embalagens
de barras energéticas deixadas
por soldados israelenses, havia
dezenas de cápsulas de fuzis.
"O ódio contra Israel, pelo
que houve, é tão grande que
não há espaço para reclamar do
Hamas", diz Youssef El Awa.
Mártires
Nas ruas de Gaza, as bandeiras verdes do grupo continuam
a tremular no alto de mesquitas, casas e postes, ao lado de
milhares de pôsteres de "mártires", ostentando fuzis ou não.
"Qual é o problema com o
Hamas? Ele venceu as eleições,
é o governo legítimo", disse o
professor Shawqi Ramal Salem,
que teve a casa destruída por
bombardeio israelense.
Para Karam Basim Selman,
"quem ganhou a luta foi o povo
palestino, de Gaza". "Todos,
qualquer criança, mulher, homem, velho guerrilheiro, todos
venceram a guerra, até os mortos. Cada um lutou e desempenhou um papel à sua maneira,
mesmo que não tenha pegado
em armas", diz Selman.
Muitos argumentam que Israel não obteve êxito militar
porque, dizem, matou poucos
membros do Hamas e muitos
civis, além de não ter destruído
muitos dos túneis na fronteira
que servem para contrabando
-violando o bloqueio econômico imposto a Gaza em junho
de 2007, quando o grupo expulsou o rival Fatah do território e
assumiu seu controle.
"O Hamas continua no poder. Governos no mundo ficaram a favor da causa palestina
contra Israel. [Muitos] já não
chamam o Hamas de terroristas, mas de Hamas. Israel fortaleceu a causa palestina e o partido", afirma Omar El Jamal.
Para um militante do Fatah,
o momento seria de união entre os adversários, mas a suposta "vitória" impede isso por ora.
"As duas partes deveriam se
aproximar, pois o inimigo principal é Israel. Ainda vejo divisão, e o motivo é que Israel não
ganhou a guerra. Se a vencesse,
a união provavelmente aconteceria mais facilmente", disse.
Veja animação sobre a
história dos conflitos na
região
www.folha.com.br/090159
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