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ARTIGO
Nazismo é inevocável
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
TENHO OUVIDO insistentemente, na imprensa, entre meus alunos e também entre alguns
amigos, comparações entre a
ação recente de Israel na faixa
de Gaza e o Nazismo.
"Estado nazissionista", montagens de fotos justapondo terrores do nazismo com aparente
correspondência exata aos horrores sofridos pelos palestinos.
Tudo isso é absolutamente inaceitável e, creio, revelador.
Não quero aqui me posicionar sobre a ofensiva israelense
que é, certamente, controversa
sob muitos pontos de vista, mas
falar sobre esse frenesi comparativo entre o nazismo e Israel.
O que quero, essencialmente,
dizer, é que nada, nada, é comparável ao nazismo.
A não ser que surja uma nova
campanha nacional e continental contra uma raça, simplesmente pelo fato de ela ser uma
raça e não outra; a não ser que
haja uma ação consensual, coletiva e institucional, de eliminação sumária e calculada de
um povo inteiro, das formas
mais cruéis e sádicas possíveis,
perpetradas por um exército
que parecia gozar no exercício
de seus pequenos poderes
(campeonatos para ver quem
mata mais prisioneiros com um
tiro só, troca de fetos por ratos,
inserção de órgãos doentes no
lugar de órgãos saudáveis etc.),
a não ser que haja um certo silêncio da parte de outros países
em relação a práticas ocultas
mas também ostensivas, da extinção de um povo inteiro, a
não ser que isso aconteça novamente, nunca, e repito, nunca
mais se pode chamar qualquer
outra ofensiva de nazista.
Em primeiro lugar, por mais
que se discorde do argumento
israelense, não há como estabelecer uma ordem comparativa
entre um argumento político e
um argumento racista. Ambos
podem ser condenáveis, mas
suas naturezas são diferentes.
Já atingimos um certo estágio da civilização, pós-iluminista, em que os argumentos de ordem política e territorial têm
mais plausibilidade do que argumentos ideológicos, religiosos e, principalmente, raciais.
Não importa o grau de verdade
contida no argumento. Não se
trata de messianismo, direito
histórico ou sagrado. Trata-se
de algo passível de discussão.
Em segundo lugar, a pergunta central é: por que a comparação é feita exatamente com o
nazismo e não com outras
ofensivas terríveis que já ocorreram ao longo da história, perpetradas por outros países?
Acredito que aí é que esteja a
parte reveladora desta comparação que, na minha opinião, é
mais sádica do que qualquer
outra coisa. Comparar Israel
com o nazismo é como dizer:
"eles não aprenderam a lição;
estão praticando exatamente
aquilo que sofreram".
Ou seja: comparar a ação de
Israel com o nazismo é usar o
próprio argumento racista do
nacional-socialismo: "os judeus merecem o sofrimento" ; é
justificar subconscientemente
os acontecimentos da segunda
guerra e é, também, livrar-se da
culpa que todos sentimos pelo
que aconteceu.
Comparar o nazismo à ação
de Israel é, na verdade, uma
prática antissemita, racista e ignorante. Uma ignorância orgulhosa, vingadora e recalcada,
como talvez todas as grandes
ignorâncias sejam, culpadas
pela perpetração de barbaridades atrozes e injustificáveis.
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