São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Reunião dá a Haiti comando da reconstrução

Mas coordenação será da ONU, diz documento final de conferência com cerca de 20 países e instituições multilaterais no Canadá

Envolvidos se comprometem com a causa da reconstrução por no mínimo dez anos e convocam para março uma reunião de doadores na ONU


Paul Chiasson/Associated Press
Delegados discutemo "mapa do caminho" para recuperar o Haiti após terremoto em conferência realizada ontem em Montréal

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MONTRÉAL

O governo do Haiti estará na liderança da recuperação de seu próprio país, destruído por um terremoto há duas semanas, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) terá papel-chave na coordenação dos esforços. Esta foi a principal decisão da Conferência Preparatória Ministerial em favor do Haiti, que reuniu cerca de 20 países e instituições multilaterais ontem no Canadá.
Acaba assim, pelo menos no papel, a disputa de bastidores pela primazia nas ações de recuperação do país, que, nos últimos dias, tem causado confusão e tensão entre EUA, ONU, Brasil, França e União Europeia, entre outros atores com interesse e participação ali.
Além disso, foi convocada para março, na sede da ONU, em Nova York, uma conferência internacional de doadores para coordenar o uso do dinheiro arrecadado para a reconstrução do país, que segundo alguns cálculos já passa de US$ 1 bilhão de dólares, ou um sexto do PIB haitiano.
"Os haitianos são donos de seu futuro", começa o documento divulgado ao fim da reunião ministerial, chamado pelos participantes de "mapa do caminho" para a reconstrução. "Nós respeitamos a soberania haitiana, vamos envolver o povo haitiano e estaremos alinhados com as prioridades do governo do Haiti."
Antes, pela manhã, falando ao plenário da reunião, o primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, já tinha lançado o apelo. "O governo haitiano está funcionando em condições precárias, mas é capaz de prover a liderança que o povo haitiano espera dele nos desafios colossais em direção ao desenvolvimento", disse ele, afirmando que o esforço seria "dos haitianos, pelos haitianos".
A questão sobre quem está no comando dos esforços vem mobilizando a atenção da opinião pública internacional, pelo grau de destruição do país, o recorde do dinheiro arrecadado e o histórico tanto de intervenções estrangeiras no Haiti como de mau uso da verba pública por sucessivos governos.
Também preocupam o longo prazo previsto para a reconstrução e o custo total. Para o premiê canadense, Stephen Harper, que falou ontem na reunião como convidado, "não é um exagero afirmar que dez anos de trabalho duro esperam o mundo", prazo mínimo repetido pelo documento.
Quanto ao custo, o ministro haitiano do Turismo, Patrick Delatour, chegou a dizer ao "New York Times" que US$ 3 bilhões seriam necessários, mas o valor não foi confirmado pelo primeiro-ministro Bellerive, que só ressaltou o tamanho da necessidade atual.
Durante a entrevista coletiva que se seguiu, a preocupação com uma definição mais precisa da liderança dominou as perguntas, já que o documento diz que a liderança é do Haiti, mas a coordenação é da ONU -e os EUA controlam o aeroporto e têm 20 mil homens no Haiti ou em embarcações ali.
Indagado sobre quem "dirigia o ônibus" da recuperação haitiana, o ministro das Relações Exteriores, Lawrence Cannon, respondeu que a pessoa ao seu lado -Bellerive. Antes, falando com jornalistas, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, havia dito que "o ideal é que o governo retome a liderança".
"O Haiti não é o Kosovo de dez anos atrás, nem o Iraque depois do bombardeio", disse. "Ou seja, está sofrendo muito, mas tem um governo eleito democraticamente."


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