São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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MÉXICO

Comandantes do EZLN foram recebidos com gritos e aplausos em Tuxtla Gutiérrez, primeira parada da caravana

Zapatistas iniciam marcha em Chiapas

Reuters
Subcomandante Marcos saúda população de Tuxtla Gutiérrez


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A bordo de um ônibus turístico equipado com televisão e ar-condicionado, 24 líderes do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) partiram ontem do Estado de Chiapas, no sul do México, em uma "marcha pela dignidade indígena", programada para percorrer cerca de 3.000 quilômetros, passando por 12 Estados, antes de chegar, no dia 11 de março, na praça central da Cidade do México.
A histórica marcha, encabeçada pelo subcomandante Marcos, principal líder do EZLN, partiu ontem cedo de San Cristóbal de las Casas. A primeira parada da caravana de cerca de 30 ônibus e 20 caminhões, acompanhada por dois helicópteros e mais de duzentos policiais, foi Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas.
O objetivo do EZLN, que abriu mão das armas pela primeira vez, é forçar uma negociação com o governo mexicano.
Na noite de sexta-feira, o presidente Vicente Fox qualificou a marcha como "ponte para a paz e a reivindicação dos indígenas" e, no sábado, ordenou a libertação de 19 presos zapatistas.
O EZLN havia imposto como exigências para retomar o diálogo com o governo a retirada de sete acampamentos militares (o governo de Fox já retirou quatro), a libertação dos mais de cem zapatistas presos (dos quais 58 foram libertados) e a aprovação de um projeto de lei sobre direitos e cultura indígena, enviado por Fox ao Congresso em dezembro.
Em resposta à declaração de Fox, Marcos disse anteontem que o presidente queria "uma paz só de imagem, para vender a seus sócios do norte (os EUA)".
As lideranças zapatistas, acompanhadas de seu coordenador para o contato com o Congresso mexicano, Fernando Yañez, foram recebidos em Tuxtla Gutiérrez com gritos e aplausos por milhares de pessoas.
Originalmente, os comandantes previam uma rápida parada na cidade, mas decidiram discursar em um palco armado na praça central, onde faixas com os dizeres "Bem-vindos, comandantes zapatistas" e "Território zapatista" haviam sido penduradas.
O ato começou com a execução do hino nacional, enquanto Marcos e outros comandantes levantavam a bandeira mexicana.
"Este Estado não será mais a lata de lixo desse país", disse Marcos, que foi longamente aplaudido. O subcomandante também criticou empresários e o Partido de Ação Nacional, do presidente Fox.
Em resposta a gritos dizendo "você não está sozinho", Marcos afirmou: "Nós nunca estivemos sozinhos, mas não o sabíamos até 1º de janeiro de 1994".
Nessa data, entre 600 e 2.000 guerrilheiros indígenas tomaram de surpresa seis cidades da região de Chiapas, o Estado mais pobre do México, declararam guerra ao governo mexicano e ao Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e reivindicaram o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas do país.
Marcos jogou flores à multidão antes de partir com o resto da caravana em direção às paradas seguintes da marcha: La Ventosa e Juchitán, no Estado de Oaxaca.



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