São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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Ativista cubano é enterrado sob cerco militar

Governo detém cidadãos que queriam participar de funeral, no leste da ilha, de militante morto na terça após greve de fome

Ao deixar Havana, Lula não volta a comentar episódio, mas reitera apelo a Obama para que ponha fim ao embargo econômico a Cuba


Franklin Reyes/Associated Press
Dissidentes cubanos organizam vigília em Havana em homenagem a preso político Orlando Zapata Tamayo, morto na terça-feira após 85 dias de greve de fome

DA REDAÇÃO

O prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, que morreu na terça após fazer 85 dias de greve de fome, foi enterrado ontem em Banes, cidade de sua família, a 850 km de Havana, em meio a um forte esquema de segurança oficial. Segundo ativistas de direitos humanos, o governo cubano fez várias detenções breves para impedir que oposicionistas participassem da cerimônia.
Zapata, 42, morreu horas antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aterrissar em Cuba em visita oficial. O caso ganhou o repúdio imediato dos EUA e da União Europeia, que cobraram a libertação dos estimados 200 prisioneiros políticos do regime castrista.
Pouco depois das 7h da manhã de ontem, partiu o cortejo de Zapata rumo ao cemitério de Banes, no leste da ilha. Ao contrário do que a família queria, o caixão foi escoltado por agentes de segurança. "Gritamos liberdade! Orlando vive em nossos corações. Cantamos também o hino nacional", contou à Folha a bibliotecária opositora Marta Díaz Rondón, 46.
Díaz fez parte do grupo que entrou cedo na casa do preso político, ainda antes de seu corpo chegar à cidade, no final da tarde de anteontem. Disse ter entrado com um irmão de Zapata e acusou a polícia de cobrar identificação aos que queriam participar da cerimônia.
Antes de deixar Havana ontem e seguir para o Haiti, Lula fez um apelo ao presidente dos EUA, Barack Obama, cobrando "ousadia" para que acabe com o bloqueio comercial imposto desde 1962 a Cuba. Ao lado de Lula anteontem, o dirigente máximo de Cuba, Raúl Castro, "lamentou" a morte do operário condenado a 36 anos de prisão por, entre outros delitos, desacato a autoridade, e culpou os EUA pelo episódio.
Em entrevista à imprensa cubana, Lula disse que Obama deveria agir como os americanos que o elegeram. "Estou convencido de que o presidente Obama, que ganhou as eleições em Miami [sede da principal comunidade cubana nos EUA], deveria tomar essa decisão. Eu tenho dito, com todo o respeito, que ele não tem que fazer nada mais do que fez o povo americano que teve ousadia de votar no Obama."
Diferentemente da véspera, quando lamentara a morte de Zapata, mas dissera não ter recebido a carta de dissidentes cubanos pedindo para que ele intercedesse pelo preso, Lula não comentou o caso.
"Foi decepcionante, e Lula não foi nem original. Recentemente, entregamos uma carta na Embaixada da África do Sul endereçada a Nadine Gordimer. Ela também disse que não recebeu", afirmou Mirian Leiva, uma das promotoras da carta. Prêmio Nobel de Literatura, Gordimer participou neste mês da Feira do Livro de Havana.
A oposição ao governo Lula paralisou ontem as votações no plenário da Câmara em protesto contra a presença do presidente em Cuba. Rodrigo Maia (PMDB-RJ) quer convocar o presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para explicar quais os critérios usados para definir os empréstimos brasileiros ao país.

Com agências internacionais e SIMONE IGLESIAS, enviada especial a Havana



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