São Paulo, domingo, 26 de março de 2000 |
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ELEIÇÃO PRESIDENCIAL Vladimir Putin,47, busca consolidar poder e instaurar "ditadura da lei" em país em transição Rússia deve eleger ex-espião hoje
IGOR GIELOW enviado especial a Moscou Vladimir Putin busca hoje uma vitória histórica sobre seus dez oponentes na corrida pela Presidência da Rússia. Aos 47 anos, esse ex-espião da extinta KGB (serviço secreto soviético) promete ser o homem que vai limpar o país da corrupção, do crime organizado e instaurar a "ditadura da lei". Presidente interino desde que Boris Ieltsin, que o tirou das sombras ao apontá-lo premiê em agosto de 99, renunciou na véspera do Ano Novo, Putin tem todas as condições para ganhar hoje. Segundo as últimas pesquisas, Putin (pronuncia-se Pútin) tem entre 53% e 57% das preferências. O segundo colocado, o neocomunista Guennadi Ziuganov, soma no máximo 25% das intenções. Grigori Iavlinski, do partido liberal Iabloko, se equilibra na casa dos 5%, acima do ultranacionalista Vladimir Jirinovski e outros sete candidatos. Os cerca de 108 milhões de russos aptos a votar devem preencher suas cédulas em 94 mil postos eleitorais espalhados em 11 fusos diferentes -do encrave europeu de Kaliningrado ao território oriental de Kamchatka. Putin, como toda novidade eleitoral, é uma incógnita. Pouco se sabe sobre suas idéias econômicas e muito sobre a ferocidade de seu belicismo na campanha militar que está mantendo desde setembro contra a República separatista da Tchetchênia e na qual morreram 2.000 russos e número ainda indeterminado de civis e rebeldes. Há temores sobre um suposto pendor autoritário do presidente interino. Como todo ex-membro da KGB, e que já declarou que quer trazer ex-colegas para "acabar com a corrupção", as suspeitas sobre ele são automáticas -mas até agora só especulativas. O que mais pesa contra Putin, eleito hoje ou em segundo turno em 16 de abril, é o fato de sua popularidade ter se cristalizado com o sangue da campanha tchetchena. Há suspeitas, refutadas pelo Kremlin, de que o serviço secreto do governo teria plantado as primeiras bombas em cidades russas para justificar o início da guerra. Mas isso não parece encontrar ressonância tão uniforme no eleitorado quanto na opinião pública internacional: segundo o Centro de Pesquisa Social Comparativa, a guerra no Cáucaso só é prioritária para 6% do eleitorado. A maioria, 58%, quer mesmo é saber como vai ficar a economia, o seu próprio bolso. Foram três meses de corrida eleitoral morna. Só na última sexta Putin foi à TV para pedir voto a quem pudesse garantir um lugar especial para o país na comunidade internacional. Motivos para isso existem. Como o próprio presidente interino lembrou na sexta, a Rússia é uma "poderosa potência nuclear". O adjetivo pode ser duvidoso, mas o fato é que o Kremlin tem em suas mãos cerca de 1.400 mísseis com diversas ogivas nucleares, ou seja, poder de fogo de sobra para reduzir o mundo a pó. Além disso, e talvez mais importante, a Rússia é um gigante territorial tentando se recuperar da crise da desvalorização do rublo de 1998 -aquela que levou de roldão outras economias de países ditos emergentes, inclusive a brasileira do "real forte". O fortalecimento das instituições é visto como fundamental para garantir a sustentabilidade dessa recuperação. Resta saber se Putin, ou outro candidato que venha a derrotá-lo, conseguirá conduzir a Rússia para fora do estado de desorganização social, econômica e política em que está mergulhada hoje. Como disse na sexta o empresário Boris Berezovski, um dos oligarcas que são acusados de manter a Rússia onde está, "é fácil falar a eleitores". Próximo Texto: Ocidente recebe com críticas o "mistério" Putin Índice |
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