São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Vladimir Putin,47, busca consolidar poder e instaurar "ditadura da lei" em país em transição
Rússia deve eleger ex-espião hoje

France Presse -31.dez.1999
O ex-presidente Boris Ieltsin (à esq.) com Vladimir Putin no dia da renúncia, 31 de dezembro de 99




Pesquisas apontam vitória do presidente em exercício, sucessor político de Boris Ieltsin

IGOR GIELOW
enviado especial a Moscou

Vladimir Putin busca hoje uma vitória histórica sobre seus dez oponentes na corrida pela Presidência da Rússia. Aos 47 anos, esse ex-espião da extinta KGB (serviço secreto soviético) promete ser o homem que vai limpar o país da corrupção, do crime organizado e instaurar a "ditadura da lei".
Presidente interino desde que Boris Ieltsin, que o tirou das sombras ao apontá-lo premiê em agosto de 99, renunciou na véspera do Ano Novo, Putin tem todas as condições para ganhar hoje.
Segundo as últimas pesquisas, Putin (pronuncia-se Pútin) tem entre 53% e 57% das preferências. O segundo colocado, o neocomunista Guennadi Ziuganov, soma no máximo 25% das intenções.
Grigori Iavlinski, do partido liberal Iabloko, se equilibra na casa dos 5%, acima do ultranacionalista Vladimir Jirinovski e outros sete candidatos.
Os cerca de 108 milhões de russos aptos a votar devem preencher suas cédulas em 94 mil postos eleitorais espalhados em 11 fusos diferentes -do encrave europeu de Kaliningrado ao território oriental de Kamchatka.
Putin, como toda novidade eleitoral, é uma incógnita. Pouco se sabe sobre suas idéias econômicas e muito sobre a ferocidade de seu belicismo na campanha militar que está mantendo desde setembro contra a República separatista da Tchetchênia e na qual morreram 2.000 russos e número ainda indeterminado de civis e rebeldes.
Há temores sobre um suposto pendor autoritário do presidente interino. Como todo ex-membro da KGB, e que já declarou que quer trazer ex-colegas para "acabar com a corrupção", as suspeitas sobre ele são automáticas -mas até agora só especulativas.
O que mais pesa contra Putin, eleito hoje ou em segundo turno em 16 de abril, é o fato de sua popularidade ter se cristalizado com o sangue da campanha tchetchena. Há suspeitas, refutadas pelo Kremlin, de que o serviço secreto do governo teria plantado as primeiras bombas em cidades russas para justificar o início da guerra.
Mas isso não parece encontrar ressonância tão uniforme no eleitorado quanto na opinião pública internacional: segundo o Centro de Pesquisa Social Comparativa, a guerra no Cáucaso só é prioritária para 6% do eleitorado. A maioria, 58%, quer mesmo é saber como vai ficar a economia, o seu próprio bolso.
Foram três meses de corrida eleitoral morna. Só na última sexta Putin foi à TV para pedir voto a quem pudesse garantir um lugar especial para o país na comunidade internacional.
Motivos para isso existem. Como o próprio presidente interino lembrou na sexta, a Rússia é uma "poderosa potência nuclear". O adjetivo pode ser duvidoso, mas o fato é que o Kremlin tem em suas mãos cerca de 1.400 mísseis com diversas ogivas nucleares, ou seja, poder de fogo de sobra para reduzir o mundo a pó.
Além disso, e talvez mais importante, a Rússia é um gigante territorial tentando se recuperar da crise da desvalorização do rublo de 1998 -aquela que levou de roldão outras economias de países ditos emergentes, inclusive a brasileira do "real forte".
O fortalecimento das instituições é visto como fundamental para garantir a sustentabilidade dessa recuperação.
Resta saber se Putin, ou outro candidato que venha a derrotá-lo, conseguirá conduzir a Rússia para fora do estado de desorganização social, econômica e política em que está mergulhada hoje.
Como disse na sexta o empresário Boris Berezovski, um dos oligarcas que são acusados de manter a Rússia onde está, "é fácil falar a eleitores".


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