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São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

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VENEZUELA

Acerto com a oposição, citado pelo presidente brasileiro em encontro, havia sido rejeitado pelo governo venezuelano

Lula pressiona Chávez a aceitar acordo

ANDRÉ SOLIANI
WILSON SILVEIRA
ENVIADOS ESPECIAIS A RECIFE

Durante encontro ontem em Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou o seu par venezuelano, Hugo Chávez, a aceitar um acordo de paz com a oposição que o seu governo vetou. Não é a primeira vez que a intransigência de Chávez nas negociações com a oposição incomoda o governo brasileiro.
"Esperamos que [o projeto de acordo] possa ser aceito como base para que os venezuelanos encontrem eles próprios uma solução constitucional, pacífica, democrática e eleitoral para os problemas de seu país", afirmou Lula durante o discurso que havia sido preparado previamente.
À noite, Chávez disse que "na Venezuela há uma Constituição e não falta assinar nenhum acordo para que ela seja cumprida", deixando claro sua posição.
O tema também foi tocado durante a reunião privada entre os dois presidentes. No seu pronunciamento, Chávez não sinalizou se as cobranças brasileiras surtirão efeito.
Anteontem, o vice venezuelano, José Vicente Rangel, disse que o governo vetaria o projeto de acordo assinado por representantes de Chávez e da oposição.
O documento, apresentado no dia 11 pela OEA (Organização dos Estados Americanos), era o resultado de cinco meses de negociações entre governo e oposição sobre a crise política na Venezuela, mediadas pelo secretário-geral da organização, César Gaviria. A recusa de Rangel alimentou as dúvidas sobre uma votação a respeito do mandato de seis anos de Chávez, previsto para terminar em dezembro de 2007.
O referendo é uma das principais reivindicações da oposição venezuelana, que promoveu uma greve de 63 dias, entre dezembro e janeiro passados, para exigir a renúncia do presidente.
Desde do fim da greve, Chávez se fortaleceu no poder e passou a ter atitudes que desagradaram ao Itamaraty. A primeira foi as críticas de Chávez à composição do Grupo de Amigos da Venezuela, iniciativa liderada pelo Brasil.
O Grupo de Amigos, composto pelo Brasil, EUA, Portugal, Espanha, México e Chile, foi criado para facilitar o diálogo entre a oposição e o governo. Chávez insistiu, sem sucesso, pela ampliação do grupo para incluir países como Cuba, França e Rússia, com o objetivo de enfraquecer os EUA.
As cobranças de Lula foram, no entanto, amenizadas pela troca de elogios mútuos. "Quando regressar à Venezuela, pode dizer que o povo da Venezuela e governo da Venezuela têm no povo brasileiro e no governo brasileiro um amigo de verdade."
Chávez retribuiu: "Da minha humilde trincheira torço para que os primeiros cem dias exitosos de governo se transformem em quatro anos de sucesso".

Guerra
Chávez também engrossou as críticas que Lula fez à decisão dos Estados Unidos de atacar o Iraque sem o aval da ONU. No seu pronunciamento, Lula disse "lamentar o uso da força [pelos EUA] sem a autorização expressa do Conselho de Segurança das Nações Unidas". Chávez afirmou que o "poder de veto [dos países membros permanentes do CS] desmoronou com a decisão unilateral dos EUA".


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