São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007

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Israel acusa líder árabe de traição

Bishara, que renunciou a seu mandato de deputado há poucos dias, é investigado por suposta ajuda ao inimigo

Caso aumenta tensão entre a maioria judia e os árabes israelenses, que compõem um quinto da população e reclamam de discriminação

DA REDAÇÃO

O ex-deputado árabe israelense Azmi Bishara está sendo investigado por crimes contra a segurança do país, entre eles o de passar informações sensíveis ao inimigo durante a Segunda Guerra do Líbano, travada no ano passado entre Israel e o grupo radical xiita Hizbollah.
O caso aumenta a desconfiança entre a maioria judia e os árabes israelenses, que compõem um quinto da população de 7,1 milhões do país e há anos reclamam de discriminação.
Bishara, o mais eloqüente porta-voz dessa queixa, renunciou a seu mandato de deputado no último fim de semana, no meio de uma viagem por países árabes em que disse ser vítima de perseguição política.
Segundo o porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, Bishara deixou o país após ter sido interrogado duas vezes e ter descumprido outras intimações para depor. Não voltou desde então, passando a ser considerado fugitivo.
A investigação, que só foi divulgada ontem, após a suspensão parcial de uma ordem de sigilo judicial, inclui suspeitas como ajuda ao inimigo em tempo de guerra, transferência de inteligência ao inimigo e lavagem de dinheiro.

Estado binacional
Bishara, 50, natural de Nazaré, é um dos 12 deputados árabes no Parlamento israelense. Foi eleito pela primeira vez em 1996 e, desde então, já protagonizou diversas polêmicas, com sua estridente defesa de um Estado binacional e visitas a líderes inimigos de Israel.
Após uma viagem em 2001 à Síria, onde participou de uma homenagem póstuma ao ditador Hafez Assad, Bishara teve a imunidade cassada pelo Parlamento. Também foi acusado de incitação à violência e apoio ao Hizbollah. Em ambos os casos, porém, o Supremo israelense deu ganho de causa a Bishara.
Reagindo à investigação, ele voltou ontem a acusar Israel de perseguição política. "O "establishment" em Israel está tentando transformar conexões pessoais e políticas nos países árabes em violações à segurança do país", disse o ex-deputado, no Qatar, à TV Al Jazeera.
Bishara é investigado num momento de reaquecimento do antigo debate sobre o status dos cidadãos árabes de Israel e o suposto paradoxo de um Estado que é, ao mesmo tempo, democrático e judeu. A nomeação do primeiro árabe muçulmano para integrar o gabinete israelense, no início do ano, não arrefeceu a discussão.
Nos últimos meses, intelectuais árabes de Israel lançaram manifestos para exigir não só igualdade, mas a criação de um Estado multicultural que elimine as referências judaicas de símbolos nacionais, como a bandeira e o hino.


Com agências internacionais


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